Vencedor das prévias para presidente da Argentina quer o país fora do Mercosul e rejeita a China: “Você faria comércio com um assassino”?

Javier Milei, candidato à presidência da Argentina e o mais votado nas eleições primárias realizadas na última semana, quer congelar as relações com a China e retirar a segunda maior economia da América do Sul do Mercosul.

Em entrevista à Bloomberg após sua inesperada vitória nas primárias no último domingo, o candidato oposicionista de extrema direita revelou como pretende conduzir os assuntos da Argentina no cenário mundial, caso seja eleito.

“As pessoas não são livres na China, não podem fazer o que querem e, quando o fazem, são mortas”, referindo-se ao governo de Pequim. “Você faria comércio com um assassino?”, complementou.

Ele abalou o establishment político argentino no fim de semana passado ao receber mais votos do que o bloco de oposição pró-negócios e a coalizão peronista que atualmente governa o país. A votação final para a presidência do país e outros cargos ocorrerá em 22 de outubro.

A chapa de Milei, A Liberdade Avança, recebeu mais de 30% dos votos. A segunda chapa mais votada foi a Juntos pela Mudança, também de oposição, com 28% dos votos. Em outubro, ela será representada por Patricia Bullrich.

A chapa governista, União Pela Pátria, ficou em terceiro, com 27,27% dos votos, o pior desempenho do peronismo na história das prévias. O ministro da Economia, Sergio Massa, será o candidato.

Recusando fazer qualquer tipo de negócio com “socialistas”, Milei colocou a China comunista na mesma categoria do maior parceiro comercial da Argentina, o Brasil.

O país asiático é o segundo maior comprador das exportações argentinas e fornece uma linha de swap crucial de US$ 18 bilhões com o banco central que está sendo usada para pagar o Fundo Monetário Internacional.

Ele descreve suas propostas de política externa como uma “luta global contra socialistas e estatistas” e revelou que nomearia Diana Mondino, uma conselheira econômica de confiança, para ser a principal diplomata.

Mais tarde, o candidato esclareceu que cabe ao setor privado decidir se mantém relações comerciais com a China e outros países cujos líderes ele tem um forte desgosto.

“Não tenho que me envolver, mas não vou promover laços com quem não respeita a liberdade” disse, acrescentando que respeitaria os acordos já assinados na Argentina por empresas chinesas, que incluem um contrato para construir represas na Patagônia e um acordo para instalar uma usina nuclear.

O maior beneficiário geopolítico da ideologia de Milei seria claramente os Estados Unidos. No momento, Donald Trump está à frente nas pesquisas para garantir a indicação republicana, mas Milei não está especialmente interessado em ser comparado com o ex-presidente dos EUA. Questionado se gostaria que Trump voltasse à Casa Branca, ele disse cautelosamente: “Isso cabe aos americanos decidir”.

“Posso gostar mais do perfil dos republicanos do que dos democratas, mas isso não significa que não considere os EUA como nosso grande parceiro estratégico”, acrescentou.

Milei colocou Luiz Inácio Lula da Silva; Andrés Manuel López Obrador, do México; Gabriel Boric, do Chile; e Gustavo Petro, da Colômbia, os líderes de esquerda das principais economias da América Latina, em guarda. Questionado sobre como seria sua relação com eles, disse:

“Não tenho parceiros socialistas.”

Em contrapartida, sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro é “excelente.”

Críticas ao Mercosul
Milei deprecia a aliança comercial que a Argentina criou com Brasil, Paraguai e Uruguai há mais de três décadas.

“O Mercosul é uma união aduaneira de má qualidade que cria distorções comerciais e prejudica seus membros”, afirmou.

Por fim, o vencedor das eleições primárias argentinas foi igualmente crítico ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a quem chamou de “ditador”, assim como os governos da Nicarágua, Cuba, Coreia do Norte e Rússia. Se for eleito presidente, ele disse que a Argentina condenaria novamente a Venezuela por sua violação dos direitos humanos voltando à política linha-dura que o país manteve até 2019 com o presidente Mauricio Macri.

Por Redação

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