Morte de pesquisador em expedição acende discussão sobre riscos que cientistas passam
Colombiano Javier Maldonado Ocampo morreu após voadeira em que ele estava junto com seus alunos e piloteiros virar no último dia 2, quando ele participava de uma expedição de coleta de peixes
O site oficial do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) destacou, no dia 6 deste mês, a morte do pesquisador ictiólogo colombiano Javier Maldonado Ocampo, 42, professor da Pontificia Universidad Javeriana em Bogotá, na Colômbia. A voadeira em que ele estava junto com seus alunos e piloteiros (dois indígenas) virou no último dia 2, quando ele participava de uma expedição de coleta de peixes na bacia do rio Uaupés, próximo a Iauareté, fronteira com o Brasil.
No texto, a pesquisadora curadora da Coleção de Peixes, a ictióloga Lucia Rapp Py-Daniel faz um alerta sobre as condições perigosas pelas quais passam pesquisadores e estudantes nos rios amazônicos. Segundo ela, a situação é comum às pessoas que trabalham em rios com corredeiras na Amazônia. “Nem sempre se consegue um piloteiro experiente; nem sempre se usam coletes salva-vidas. E mesmo com essas precauções, ainda é um risco que se corre. Este infeliz acidente deveria servir de alerta para pesquisadores e estudantes que passam tanto tempo em trabalhos de campo nos nossos rios”, alertou a cientista, uma das referências do Estado do Amazonas no campo da ictiologia (ramo da zoologia que estuda os peixes).
A pesquisadora Lúcia Rapp fez o alerta após o acidente com o pesquisador colombiano / Foto: Jair Araújo-23/11/2017
“Grande perda para a Ictiologia Neotropical. O Javier era muito ativo academicamente e tinha grande interesse na popularização da ciência no seu país. Nos últimos anos ele estava montando o maior banco de dados sobre peixes da Colômbia”, destacou Lucia Rapp Py-Daniel, sobre o parceiro em pesquisas de parceiro em pesquisas de peixes de água doce.
“Além de Maldonado, outras quatro pessoas estavam na voadeira. Apesar de machucados, todos se salvaram, exceto Maldonado, que foi visto nadando por um tempo e depois desapareceu. O corpo do icitiólogo foi encontrado pelas equipes de buscas colombianas e reconhecido pelo irmão. Houve colaboração do Exército brasileiro na busca”, informou o site do Inpa. “A Coleção de Peixes do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (COBio/Inpa/MCTIC) e ictiólogos do Instituto lamentam profundamente a morte do ictiólogo colombiano Javier Maldonado Ocampo, 42, professor da Pontificia Universidad Javeriana em Bogotá, na Colômbia”, ressalta a renomada instituição sobre o cientista que tinha 20 anos de experiência de campo e acadêmica e que, nos últimos anos, dedicou-se em colaboração com profissionais de países da América Latina e da Europa no projeto Amazon Fish
Também acostumado ao contato prático com os rios amazônicos há mais de 21 anos, o pesquisador alemão Jochen Schöngart, do Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua), disse que frequente visita de barcos lugares muito remotos de várzea, igapó e longe de qualquer comunicação, e que já se sentiu tenso, mas nucnunca se sentiu ameaçado. No entanto, ele frisa que são necessários cuidados e experiências ao longo dos anos.
“Mas isso exige sempre um bom preparo para essas excursões, além de um equipamento básico como salva-vidas, sempre também remédios, e trabalhamos com pessoas do local, que têm conhecimentos da região. Para tentar minimizar qualquer risco que possa causar problemas à saúde humana”, conta ele, que já visitou muitos locais, como de Tabatinga ao Rio Branco.
Frase
“O acidente deveria servir de alerta a pesquisadores e estudantes que fazem trabalhos de campo nos nossos rios”
Lucia Rapp Py-Daniel, Ictióloga do Inpa/MCTIC