Os hackers, a corrupção e a essência humana em A Vida Secreta dos Casais

Os hackers, a corrupção e a essência humana em A Vida Secreta dos Casais

Sexo, poder e corrupção são características que normalmente caminham lado a lado. As relações humanas ditam as nossas reações e caráter, que podem ser moldados de acordo com as experiências e acontecimentos que presenciamos. É na mistura de todos esses elementos de vida íntima e seus reflexos no grande esquema das coisas que a série A Vida Secreta dos Casais gosta de passear.
Com a segunda temporada exibida desde outubro na HBO e disponível no aplicativo do canal, as apostas cresceram e os dilemas também. O peso exercido sobre o presidente por conta de suas responsabilidades e dos problemas em casa parece gigantesco, assim como os dilemas pessoais de cada um dos personagens, que por mais que não tenham que liderar uma nação, também enfrentam suas próprias batalhas homéricas.
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“Desde a Idade Média até agora, as relações humanas formam o comportamento humano. E quando temos o poder envolvido, a corrupção acompanha tudo isso”, explica Kim Riccelli, diretor de A Vida Secreta dos Casais e um dos responsáveis por tecer a trama da produção original HBO, em entrevista ao Canaltech. Em meio a tudo isso, porém, surge uma resposta na forma de tecnologia sendo usada por pessoas habilidosas, também sujeitas aos moldes sociais, mas movidas pela iniciativa de mudar as coisas.
Introduzido na primeira temporada e com participação ativa na segunda, o grupo de hackers do seriado aparece como uma pedra no sapato do núcleo político da atração. Mais do que isso, para Riccelli, é uma demonstração da insatisfação geral da população geral, gerando um movimento de mudança que, na tela da televisão, se transforma em uma guerra de informação, invasões e atos que beiram a barreira da ilegalidade.
Essa, inclusive, é uma discussão que permeia toda a temporada, com a seguinte pergunta sempre passando pela cabeça dos especialistas: até que ponto eles estão dispostos a ir? Bem longe, como mostra A Vida Secreta dos Casais, mas, aqui, não vamos entregar spoilers. Tudo pelo que, na visão dos hackers, é algum tipo de justiça que as próprias instituições parecem incapazes de entregar.

Histórias pessoais, mas gerais também

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Kim Riccelli dirige Letícia Colin em cena de A Vida Secreta dos Casais (Imagem: Reprodução/Felipe Demartini)

Mais do que apenas uma luta digital pela verdade e pelo fim da corrupção, Riccelli acredita que o grupo de hackers de A Vida Secreta dos Casais conta a história de muitos espectadores. “Nem todos têm essas habilidades tecnológicas, mas todos compartilham a vontade de mudar as coisas. Qualquer um de nós já foi afetado diretamente ou indiretamente pela corrupção. Os hackers apenas decidiram fazer alguma coisa a respeito”, completa.
O diretor se considera um entusiasta da tecnologia e um early adopter, mantendo-se informado sobre as novidades da tecnologia. “Eu era aquele tipo de criança que desmontava brinquedos para saber como eles funcionavam”, completa. Isso acabaria transparecendo também em seu trabalho, tanto na construção dos roteiros quanto ao lado dos consultores que ajudaram a trazer um retrato mais fiel da tecnologia para o seriado.
“Não queríamos que esse núcleo de personagens realizasse ações absurdas e heroicas, como vemos em alguns filmes. Escolhemos fazer de nossos hackers um grupo de especialistas que trabalha em uma escala acessível”, explica. O diretor dá alguns exemplos que envolvem engenharia social ou o uso de dispositivos manipulados para roubar informações. Se você acompanha o Canaltech, sabe que notícias desse tipo, por aqui, aparecem quase todos os dias.
imagem01-12-2019-15-12-39 Experiências pessoais do diretor Kim Riccelli ajudaram a dar verossimilhança aos equipamentos e gadgets usados pelos hackers de A Vida Secreta dos Casais (Imagem: Reprodução/Felipe Demartini)
Riccelli também aproveita conceitos que vê por aí para construir histórias e evoluir personagens. É o caso de uma micha por vibração usada por um dos hackers ainda no primeiro capítulo, um aparato que tem cara de fantasioso, mas está disponível livremente para compra e é capaz de abrir fechaduras usando os tremores. Qualquer pessoa, segundo ele, pode ter um desses no chaveiro, e em A Vida Secreta dos Casais o gadget se transforma em mais uma arma na luta contra a corrupção e a busca pela verdade.
Essa abordagem também auxilia em um outro aspecto, inerente de toda produção audiovisual que tenta falar sobre tecnologia: o teste do tempo. O diretor relata que a segunda temporada de A Vida Secreta dos Casais foi escrita em 2017, mas estreou apenas dois anos depois. Ao não falar de forma tão específica, a produção também se torna menos datada.
Por outro lado, ele sabe que não é possível vencer a passagem dos meses e anos, afinal de contas nem mesmo a própria indústria é capaz de fazer isso. “Tentamos pensar em elementos e soluções que funcionem de forma generalizada, sem atrelar esses atos a uma tecnologia ou conceito específico que pode acabar datado”, explica.
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A busca pela verdade e a luta contra a corrupção, bem como discussões éticas, permeiam o grupo de hackers de A Vida Secreta dos Casais (Imagem: Reprodução/Felipe Demartini)

Ele cita a engenharia social como exemplo. Hoje, esse conceito é aplicado a e-mails fraudulentos e roubo de dados, mas sempre existiram pessoas, bem ou mal intencionadas, usando informações privilegiadas em busca de vantagens. O vetor muda, mas o objetivo e o método, principalmente, permanecem os mesmos.
Da mesma maneira que faz com a tecnologia, a produção também toma cuidado para não se tornar um reflexo do que acontece nas páginas dos jornais. “Não conseguimos fugir das semelhanças com situações reais, é claro, mas queremos garantir que a série não ultrapasse o campo da ficção. A arte tem essa magia, de se conectar com a nossa vida, mas quando escrevemos, não estamos olhando para um problema atual ou a situação específica do Brasil”, explica.
Ao mesmo tempo, o diretor vai além, não deixando de lado a ideia de que sua obra, sim, pode dialogar com a realidade. Aqui, a conversa se torna um pouco mais filosófica, com Riccelli falando em arquétipos e sobre como, na verdade, as mazelas da humanidade se repetem ao longo da história. E assim, como se fosse uma prova do exato assunto que está sendo abordado na entrevista, a nossa conversa também acabou retomando o ponto inicial, que também abre esta matéria.
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Por mais que A Vida Secreta dos Casais tenha a corrupção, o poder e o uso da tecnologia como uma arma contra isso como motes, não é como se esses não fossem elementos que sempre estivessem presentes na história humana. “Os elementos da série são atuais, mas também poderiam estar presentes em uma peça de Shakespeare. Esse comportamento humano transcende o tempo”, finaliza.
Bruna Lombardi, Carlos Alberto Riccelli, Letícia Colin, Alejandro Claveaux e Roberto Birindelli estão no elenco central de A Vida Secreta dos Casais. A série é exibida semanalmente na HBO e também está disponível no aplicativo de streaming do canal, o HBO GO.
 
Fonte: canaltech.com.br

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