Homenagem ao Domingos Sávio, Um violão Emudece

Um violão emudece!
Rememoro aqui em vívidas cores, vários dos muitos momentos de convivência com nosso parceiro humaitaense, Domingos Sávio Souza Barbosa da Silva, cujo existência neste plano encerrou-se na tarde do dia 18 de janeiro de 2016, na cidade de Porto Velho(RO), após uma longa e difícil luta pela vida.
Na última década, convivemos quase que diariamente, quer nas lides profissionais, quer nas rodas de violão, nas conversas e brincadeiras com nossos parceiros, dentre eles, Aleixo, Nã Batista, Cujuba, Palha, Bimba, Moisés Cezário, Burton, Juca, etc.
No Grupo Segunda-Feira, fizemos várias incursões artísticas, levando música e fomentando a cultura humaitaense, onde quer que alguém nos aceitasse, além de pontos tradicionais, como a casa do Aleixo. O nascedouro do Grupo foi a casa do Nã.
O Sávio era exigente, metódico e detalhista. Com seu inconfundível violão e sua caixa amplificada, unia-se ao talento de outros “feras” e juntos faziam a diferença. A mim me coube apenas e tão somente apreciar e registrar alguns desses inesquecíveis momentos.
Por vezes, deixávamos o trabalho e completávamos o dia em alguma paragem, ouvindo música, cantando e decantando as coisas boas de nossa terra mangabense; naturalmente que sempre fiz a minha parte sorvendo uns bons goles.
Era um amante da boa música. Jovem Guarda, MPB e os clássicos do cancioneiro musical brasileiro eram sua ‘especialidade’, corroborando o talento musical de tantos outros, alguns já mencionados aqui. Guardo em meu poder, bons registros fotográficos e gravações.
Nessas andanças surgiu o Recanto da Boemia, cujo intuito e objetivo primeiro foram a fomentação da cultura humaitaense, representada em sua literatura, música, danças, etc. O Sávio foi um de seus fundadores.
E antes que alguém confunda essas poucas letras com homenagem póstuma, advirto que aqui não o faço, pois a melhor homenagem foi feita quando em vida, ouvindo suas histórias, seus posicionamentos firmes e até divergentes, ele era assim.
Escrevo então, como um reconhecimento pelo que presenciei. Não o faço em relação a tempos mais distantes, pois, como disse, nossa convivência deu-se após meu retorno a Humaitá.
Quando o filósofo do samba Noel Rosa faleceu, a 04 de maio de 1937, com apenas 26 anos de idade, coube ao compositor Sebastião Fonseca escrever o poema sinfônico para sua missa de sétimo dia. O poema “Violões em funeral” tornou-se um clássico, vale a pena registrar e principalmente ouvir:
VIOLÕES EM FUNERAL
VILA ISABEL VESTE LUTO,
PELAS ESQUINAS ESCUTO,
VIOLÕES EM FUNERAL.
CHORAM BORDÕES, CHORAM PRIMAS,
SOLUÇAM TODAS AS RIMAS,
NUMA SAUDADE IMORTAL.
ENTRE AS NUVENS ESCONDIDA,
COMO DE CREPE VESTIDA,
A LUA FICA A CHORAR.
E O PRANTO QUE A LUA CHORA,
GOTEJA, GOTEJA AGORA,
NOS OITIS DO BOULEVARD.
ADEUS CIGARRA VADIA,
QUE MESMO EM TUA AGONIA,
CANTAVAS PARA MORRER.
TU VIVERÁS NA SAUDADE,
DA TUA GRANDE CIDADE,
QUE NÃO TE HÁ DE ESQUECER.
ADEUS POETA DO POVO,
QUE RESSUSCITAS DE NOVO,
QUANDO NA MORTE DESCAMBAS.
SINHÔ, DE PELE MAIS CLARA,
NO QUAL O SENHOR ENCARNARA,
A ALMA SONORA DOS SAMBAS.
Texto: Elias Pereira
 

 

 
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