ENTREVISTA COM FRANCISCO CRUZ ACHA POSSÍVEL CONCORRER NOVAMENTE AO CARGO DE PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA EM 2016
O procurador de Justiça Francisco Cruz acha possível concorrer novamente ao cargo de procurador-geral de Justiça em 2016. Também fala da sua história, sonhos, vida profissional e desafios para o ano de 2016.
O Senhor é amazonense de Manaus?
Francisco Cruz: Não. Nasci em Humaitá, no sul do estado, no dia 22.01.1958, na Avenida Gusmão, número 18. Vou completar 58 anos de idade em 2016. Sou o segundo filho (somos seis) de um servidor público concursado e de uma professora primária e exímia bordadeira, infelizmente, ambos já falecidos. Meu pai era coletor de rendas da Sefaz e se aposentou no grau máximo da carreira como inspetor de exatoria. A grande herança que os dois deixaram foi o hábito da boa leitura, devoção à Imaculada Conceição e o respeito ao alheio.
Como ocorreu sua mudança para Manaus? Veio com quantos anos?
FC: Mudei com 17 anos, Na década de 70, as famílias de Humaitá que detinham alguma posse mandavam seus filhos “continuar os estudos na capital”. Conclui o curso ginasial no Patronato Maria Auxiliadora, e, em 1975, mudei para Manaus para cursar o científico no colégio Dom Bosco, seguindo os passos do meu irmão mais velho, Mário Jorge. Eu trabalhava durante o dia e estudava a noite, e, aos sábados, frequentava o curso de francês na aliança francesa. Bons tempos… Manaus pequena, pouco carro, menos calor, mais gente conhecida e amiga. Não havia os novos ricos, arrogantes e cafonas (risos). Ou se havia, a cidade não lhes dava confiança.
Por que escolheu o Direito como ramo profissional?
FC: Francamente não sei. Talvez pelo fato de gostar de literatura, ou não gostar de injustiça… Não sei. Naquela época só havia a velha jaqueira da Escadaria dos Remédios. A concorrência era muita grande, mas meus professores do Dom Bosco eram muito bons, e acabei passando de primeira… Meus pais, lá em Humaitá, ficaram cheios de orgulho. O resultado do vestibular era divulgado pela rádio e a cidade inteira parava para ouvir os nomes dos premiados com aprovação. Era uma grande festa e virava carnaval, o resultado da Fundação Carlos Chagas era divulgado em fevereiro.
E a opção pelo Ministério Público como ocorreu? E a carreira no interior?
FC: Fui estimulado por uns contemporâneos de faculdade e acabei levando a sério o curso preparatório e fui aprovado no concurso público entre os primeiros colocados. Fui nomeado e designado para atuar em São Gabriel da Cachoeira, lá na fronteira. Essa comarca era classificada como de difícil acesso, normalmente pegava “carona” nos voos no Búfalo ou no Hércules, da FAB, aviões muito seguros, acho que são canadenses. No alto rio Negro passei quase dois anos, respondia por Santa Izabel do Rio Negro, também. De São Gabriel descia de voadeira até Santa Izabel, e de recreio para Barcelos, aí pegava o avião para Manaus, para visitar a família; nessa época a minha filha Fabiana era bem pequena. Depois fui transferido para Parintins, passei pouco tempo e ocorreu a promoção para Manaus. Passeis menos de 3 anos no interior, hoje a turma passa bem mais tempo.
E sua trajetória na capital, como se deu?
FC: Atuei bastante tempo no Tribunal do Júri, graças e Deus nunca fui ameaçado de morte (risos), nunca tive raiva do réu, sempre combati o crime, nunca o criminoso. Depois tive experiência fora do Ministério Público. Fui procurador-geral adjunto do município de Manaus, exerci o cargo de secretário executivo deJjustiça e de Direitos Humanos e também coordenei o sistema penitenciário estadual, além de ter sido diretor (interino) da Cadeia Vidal Pessoa. Experiência muita rica para o conhecimento da alma e da miséria humana. Fui um privilegiado. Pude ver a degradação humana de perto e compreender, ou tentar compreender, o que se passa numa mente criminosa. Sempre fui admirador do direito penal, gosto de ler os clássicos até hoje. Dos Delitos e das Penas do Beccaria já vi um monte de vezes. Como a maioria dos nossos professores na faculdade de direito era culta e ensinava a ciência jurídica com prazer… a gente gostava de estudar.
E como chegou ao cargo de procurador-geral de Justiça?
FC: Por insistência, costumo dizer. Quando deixei a Secretaria de Justiça e de Direitos Humanos, decidi concorrer ao cargo de PGJ. Disputei, fiquei em terceiro lugar, o escolhido foi o mais votado. Em seguida concorri, novamente, obtive a primeira colocação, o escolhido foi o segundo mais votado. Na próxima, fiquei em primeiro lugar, de novo, e o escolhido foi o terceiro da lista. Pensei, em terceiro não fui o escolhido, em primeiro não fui o escolhido, vou tentar ser o segundo. Concorri, fiquei em segundo lugar e o governador Omar Aziz me escolheu. Digo isso na brincadeira, não guardo nenhum ressentimento. A escolha quem faz é o governador e tem legitimidade para escolher qualquer um dos três. É regra constitucional, e quem não concordar com ela que não se candidate. É simples.
Exerceu a chefia do MP-AM por dois mandatos, missão cumprida?
FC: O Ministério Público do Estado do Amazonas é uma grande obra em permanente construção. Nunca estará concluída, e cada um de nós empresta sua contribuição, uns mais, outros menos. Somente aqueles que habitam o “breu das tocas” não enxergam, podem achar que são insubstituíveis ou que são eternos. O poder é uma grande quimera e só tem sentido se for ferramenta para o bom uso coletivo, fora disso é besteira. O Ministério Público brasileiro vive um momento de afirmação histórica. A contribuição que essa instituição vem emprestando à nação brasileira é fantástica, e nós do Amazonas precisamos estar em sintonia que esse sentimento cidadão nacional. Reduzir os benefícios e aumentar os riscos dos que saqueiam a pátria é tarefa do nosso Ministério Público, orgulho do Brasil.
Pelo natureza do trabalho do procurador-geral, o senhor conquistou muitos inimigos?
FC: Uns poucos… mas faz parte. Não me preocupo com isso. Tenho um amigo no Rio de Janeiro que diz que “as amizades são do poder, e as inimizades são pessoais”, também acho. O Ministério Público não possui amigos nem inimigos, nosso dever é cumprir e fazer cumprir a lei. Nem mais nem menos.
O senhor poderá concorrer novamente ao cargo de chefe do MP-AM?
FC: Faço política institucional há muito anos. Ser candidato, no meu caso, é coisa natural. Já participei de muitas eleições internas. Felizmente, graças à generosidade dos meus colegas, venci todas. Quatro delas, sendo o mais votado. O presidente Tancredo Neves dizia que “eleição e mineração só depois da apuração”. Vamos ver. O futuro dirá. Sou movido por desafios. Um Feliz 2016 com muitas vitórias e mudanças para melhor em nossas vidas. Que no ano novo, o Brasil também seja Novo!!! Obrigado.
Fonte: PORTAL DO ZACARIAS
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