Com oferta limitada de vacina, autoridades mundiais alertam para risco de epidemias de cólera

Com surtos registrados em pelo menos 30 países, o mundo está em alerta com o alastramento dos casos de cólera, doença que pode ser prevenida com vacina, hábitos de higiene e saneamento básico – no Brasil, não são registrados casos há uma década década, mas especialistas ressaltam que é preciso ficar atento.

A cólera é causada pela bactéria Vibrio cholerae, cuja toxina se fixa às paredes intestinais, alterando o fluxo normal de sódio e cloreto no organismo. Isso leva à secreção de água em grandes quantidades, na forma de vômitos e diarreias, em um quadro que leva ao esgotamento do corpo. É mais comum em crianças e idosos.

Desde janeiro, cerca de 30 países registraram casos de cólera. Dentre eles estão Haiti, Nigéria e Síria – neste último, um dos mais afetados, há 20 mil casos suspeitos, de acordo com estatística da Organização das Nações Unidas (ONU).

São também mais de 6 mil casos na Nigéria. No Haiti, a doença eclodiu à medida que moradores de bairros inteiros passaram a ser deslocados pela violência e amontoados em pequenos locais da capital, Porto Príncipe, compartilhando um único cano de água rachado que onde passam resíduos não tratados.

No Brasil, a bactéria chegou durante o fim do século de 1800, fazendo vítimas durante quase 200 anos. O último surto ocorreu em 1991, sobretudo em Estados das Regiões Norte e Nordeste – cerca de 170 mil casos e 2 mil mortes até 2014.

Transmissão e outros aspectos

– A transmissão acontece por meio de água e alimentos contaminados por fezes ou mãos de pessoas infectadas. O período de transmissão dura enquanto o doente estiver eliminando a bactéria nas fezes.

– O diagnóstico é feito com mediante análise de amostras do conteúdo de material expelido por vômito ou fezes.

– A prevenção envolve condições mínimas de saneamento básico e higiene. Na lista estão lavar as mãos com água e sabão, usar hipoclorito de sódio para purificar água não tratada e lavar vegetais, evitar o consumo de verduras cruas se não houver certeza da procedência.

– A reidratação rápida é muito importante e pode ser feita com soro caseiro ou de farmácias. Cortisona e remédios para controlar a diarreia também são ministrados. A doença pode ser curada, desde que o tratamento seja precoce.

Oferta de vacinas é limitada

A imunização contra cólera é realizada em duas doses. Mas um recente aumento da demanda mundial fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) mudar o esquema para uma só aplicação, na tentativa de aumentar o número de vacinados.

O método funciona para conter surtos, mas a proteção dura menos – de cerca de seis meses a dois anos (se o esquema envolve duas aplicações, esse período é duplicado para um a quatro anos).

A oferta atual de vacinas é extremamente limitada. Isso fez com que frente ao novo cenário, o Grupo de Coordenação Internacional (órgão que administra suprimentos de emergência de vacinas) mudasse a forma de administrar o imunizante contra a doença.

Conforme a OMS, do total de 36 milhões de doses previstas para serem produzidas em 2022, 24 milhões foram embarcadas para campanhas preventivas e mais 8 milhões de doses para a segunda rodada de vacinação de emergência em quatro países. É muito pouco.

Os fabricantes estão produzindo em sua capacidade máxima atual e não há solução de curto prazo para aumentar a produção. A suspensão temporária da estratégia de duas doses pode apagar o incêndio, mas não resolve o problema.

Uma longa reportagem do jornal norte-americano “The New York Times” neste mês detalhou a situação dramática. “Não há vacina suficiente”, desabafou a coordenadora internacional da ONG Médicos Sem Fronteira, Daniela Garone. “No momento, estamos apenas reagindo, tentando evitar a mortalidade, e não podemos evitar.”

Ela acrescentou: “Uma campanha de vacinação contra a cólera não visa cobrir toda a população de um país, mas sim a área em torno de um foco transmissor. A principal finalidade é ganhar tempo para que um país coloque em prática medidas de saneamento, como instalar latrinas e transportar caminhões em fontes de água limpa”.

Por Redação

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