Visita da Chanceler Alemã Angela Merkel ao Brasil

Diante da crise política e econômica que assola o país, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao Brasil para reforçar a importância da parceria com a Alemanha, quarta maior economia do mundo.
“Nesse cenário de incertezas quanto à recuperação da economia internacional, sabemos o quanto é importante essa parceria. A Alemanha é um dos principais investidores no Brasil, seu maior parceiro comercial [na União Europeia]”, disse.
A presidente fez um apelo a empresários alemães para que invistam nas áreas de infraestrutura, participando do processo licitatório da segunda etapa do Programa de Investimento em Logística, e também do de energia elétrica.
“Ressaltei [a Merkel] as oportunidades para ampliação dos investimentos da Alemanha no Brasil, especialmente em infraestrutura e energia elétrica”, afirmou.
Atualmente, 1.600 empresas alemãs atuam no Brasil.
A visita ocorre num momento sensível para os dois governos. Dilma tenta usar a visita da líder europeia para mostrar prestígio externo num momento de fragilidade política.
Na Alemanha, Merkel enfrenta forte oposição dentro do próprio partido, o CDU (União Democrata Cristã), por causa do terceiro pacote de ajuda à Grécia, de € 86 bilhões (R$ 330 bilhões), aprovado na quarta (19) pelo Parlamento alemão.
DESCARBONIZAÇÃO
Em declaração à imprensa, Dilma anunciou que o Brasil aceitou a meta de longo prazo de descarbonização [transição para uma economia baseada em energia limpa] proposta pelo G7 em junho.
“Se quisermos evitar, de fato, que a temperatura aumente dois graus, o nosso compromisso com a descarbonização no horizonte de 2100 é algo muito importante para todo o planeta”, disse.
Segundo Dilma, a declaração conjunta dos dois governos sobre mudanças climáticas “reflete nosso compromisso com o êxito da COP-21 [conferência do clima da ONU], em Paris, em dezembro”.
As demais metas —chamadas de contribuições nacionalmente determinadas pretendidas, ou INDC— do Brasil para a COP-21, de acordo com Dilma, serão anunciadas em setembro, durante a conferência da ONU para adoção dos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Mais cedo, o chanceler Mauro Vieira havia declarado que o Brasil não tem obrigação de divulgar suas metas agora. “Há um momento, uma data estabelecida pela ONU, não tem por que apresentarmos antes. Quando chegar essa data, nós apresentaremos.”
A presidente destacou medidas já anunciadas em junho pelo governo, como a restauração e recuperação florestal de 12 milhões de hectares e odesmatamento ilegal zero na Amazônia até 2030.
Merkel, contudo, se disse “muito satisfeita com a agenda tão ambiciosa do Brasil em relação à proteção do clima”.
“Gostaria de agradecer a todos que cooperaram. É um fato muito importante que cada um faça aquilo que é possível fazer para limitar o aquecimento global em dois graus”, afirmou a chanceler alemã.
“Todos têm que contribuir. O Brasil deu um enorme passo e temos um objetivo comum de descarbonização da economia até o fim do século. Esses compromissos do Brasil devem servir para encorajar outros países para serem mais audaciosos”, completou.
ACORDOS
A importância da visita para a Alemanha pode ser medida pelo tamanho da comitiva. Merkel veio acompanhada de sete ministros —entre eles das Relações Exteriores, do Meio Ambiente, de Agricultura, dos Transportes, da Saúde e de Cooperação Econômica— e cinco secretários de Estado.
Enquanto Dilma conversava com Merkel, os ministros de cada área fizeram reuniões bilaterais, nas quais foram assinados os 12 acordos.
Um dos acordos prevê parceria entre o Ministério da Saúde da Alemanha e a Anvisa para facilitar o registro e a certificação de medicamentos e produtos médicos.
O setor farmacêutico é um dos que mais investem no Brasil, com a presença de empresas como a Bayer.
No campo da inovação —uma das grandes promessas da relação bilateral a longo prazo—, um acordo de cooperação entre a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e a Sociedade Fraunhofer prevê que empresas brasileiras com projetos de pesquisa industrial possam aprender com a experiência alemã na área.
Os dois países também selaram um acordo para pesquisa conjunta e exploração de terras raras —metais usados em produtos de alta tecnologia, como a monazita, que contém tório e urânio.
Na área ambiental, a Alemanha doará € 23 milhões (R$ 89 milhões) para regularização de imóveis rurais, pelo cadastro rural único, como forma de combate ao desmatamento, e US$ 500 milhões (R$ 1,75 milhão) para instalação de painéis solares em habitações do programa Minha Casa, Minha Vida.
Também foram assinados acordos de cooperação em pesquisa marinha e para monitoramento dos efeitos das mudanças climáticas em florestas tropicais no Observatório de Torre Alta da Amazônia, em São Sebastião do Uatamã (Amazonas) —uma torre de 325 metros construída com a ajuda alemã.
REFORMA DA ONU
Ao brindar a delegação alemã, em almoço no Palácio Itamaraty, Dilma reforçou o discurso brasileiro em defesa da ampliação do conselho de segurança das Nações Unidas.
“Defendemos uma governança mais representativa da atual situação da correlação de forças entre todas as economias do mundo. Por isso vamos seguir trabalhando firmes para a reforma do Conselho de Segurança da ONU”, afirmou. A chanceler alemã adotou tom semelhante: “Estamos prontos para assumir mais responsabilidades na reconfiguração do conselho de segurança e nos desafios das mudanças climáticas.
Merkel ainda elogiou o governo brasileiro por iniciativas de combate à pobreza e atenção a mudanças climáticas.
“É sempre importante continuar e ampliar o sucesso, não ficarmos parados face a inseguranças em conflitos internacionais, não cruzarmos os braços e continuar nosso desenvolvimento. Essa é a expectativa dos nossos cidadãos.”
7 X 1
A presidente aproveitou para convidar Angela Merkel a voltar ao país nosJogos Olímpicos em 2016, no Rio de Janeiro.
Dilma presenteou a chanceler alemã com dois mascotes dos jogos e lembrou a derrota brasileira para a seleção alemã na Copa do Mundo.
“Em 2016, nós esperamos ver milhares de alemães, como durante a Copa do Mundo”, disse a presidente. Em seguida emendou: “E não fazemos nenhum comentário sobre resultado de jogo nenhum”.
MERCOSUL-UE
Dilma disse ter tratado com Merkel das negociações sobre o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. As mandatárias reforçaram que as ofertas de ambas as partes têm que ser apresentadas até o fim deste ano —sem determinar uma data.
“Reafirmei a determinação do governo brasileiro na conclusão do acordo entre Mercosul e UE. O calendário prevê a troca de ofertas ainda neste ano de 2015”, disse Dilma. “Sei que essa é também a posição do governo alemão e, por isso, a troca de oferta deve se tornar um grande passo na nossa cooperação.”
Merkel afirmou que, apesar de o Mercosul ser “um grupo bastante heterogêneo” —uma referência sutil à Argentina, que tem travado as negociações—, está otimista porque o Brasil “assumiu um papel de liderança”.
“Nós vamos trabalhar de perto com a Comissão Europeia para acelerar o processo”, prometeu a chanceler alemã.
 
Fonte: folha.uol
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