Setores precisam 'conversar' e trocar conhecimentos

Conferência no Inpa discutiu os caminhos para que o resultado das pesquisas desenvolvidas pela academia na Amazônia cheguem ao mercado e sejam aceitas pela sociedade, gerando emprego e renda
A transferência do conhecimento e tecnologia produzidos entre empresas, institutos de pesquisa e investidores para beneficiar a sociedade foi um dos focos dos debates da 2ª Conferência Internacional sobre Processos Inovativos da Amazônia, realizado no fim da semana passada, no auditório do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus.
A atividade visou capacitar os agentes do Arranjo de Núcleos de Inovação Tecnológica da Amazônia Ocidental (Arranjo Amoci/MCTIC) na disseminação da prática da propriedade intelectual. Com sede no Inpa, o Amoci é composto por 23 integrantes, entre instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas, fundações e incubadoras de empresas localizadas nos estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.
De acordo com Noélia Lúcia Simões Falcão, coordenadora do Arranjo de NIT da Amazônia Ocidental, processos inovativos são os meios pelos quais se faz a ligação entre as Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT), o governo e as empresas, visando o desenvolvimento tecnológico em prol da inovação. “O Sistema de Inovação, seja ele local, regional ou nacional, contribuem com sua expertise para que o resultado das pesquisas desenvolvidas pela academia cheguem ao mercado e sejam aceitas pela sociedade, gerando emprego e renda”, afirmou Noélia.
No Amazonas, o Sistema Regional Inovação reúne diversos agentes dos segmentos citados, incluindo centros de pesquisas, aceleradores de empresas e o sistema “S”. “Esse ambiente favorece pesquisa e desenvolvimento, com o compartilhamento de boas práticas entre esses atores”, disse a coordenadora. “Recentemente, as empresas têm se esforçado para avançar suas pesquisas voltadas para o mercado”, acrescentou.
Diante do contingenciamento de recursos proposto pelo governo federal, o que afeta as pesquisas nas universidades, como fica o incentivo à inovação? Noélia afirmou que tais medidas são comuns e que a academia tem procurado se reinventar para que as pesquisas não sejam interrompidas por falta de investimentos. “Estamos falando de pró-atividade no sentido de procurar novas alternativas de captação de recursos, sejam elas em agências de fomento nacionais e/ou internacionais”, observou.  “Além disso, a busca de parcerias público/privada está cada vez mais comum, o que tem sido benéfico para as partes”.
Promovida pelo Inpa em parceria com o Arranjo Amoci, a conferência contou também com palestras, mesas redondas e painéis.
Inovação frugal

Qual a relação entre um tanque de lavar roupa, absorventes descartáveis utilizados na Índia e um relógio de pulso Xiaomi, similar ao da Apple? Além da aparente simplicidade, são produtos que compartilham aspectos da inovação frugal. Apesar de não ser uma ideia nova (na década de 1980 já existiam trabalhos e iniciativas voltadas ao tema), o conceito ainda está em fase de construção. “Em geral, são inovações que representam uma significativa redução de custos em relação ao paradigma nacional, atendendo a pessoas de baixo poder aquisitivo”, explicou André Moraes, professor dos cursos de mestrado e doutorado em Administração da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Ele destacou que, embora o custo seja menor, a funcionalidade dessas tecnologias não se diferencia muito daquelas disponíveis nos produtos mais sofisticados. “Imagine uma máquina de lavar roupa, que antigamente custava cerca de R$ 1 mil. Grande parcela da população não tinha recursos para comprá-las. Então, basta tirar o timer, a bomba de jogar e tirar água e mantém a função principal, que é agitar a roupa, e cria-se algo que custa cerca de 10% mais barato que o aparelho. Ou seja, um tanque resolve o problema de várias donas de casa”, exemplificou Moraes, que apresentou o tema na palestra inaugural da 2ª Conferência de Processos Inovativos.
Segundo Moraes, o formato tradicional das inovações implica um processo tecnológico avançado, cujas unidades são altamente custosas e chegam a uma pequena parte da população (como os aparelhos celulares). Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são a principal razão do encarecimento desses produtos. Por isso, países que enfrentam problemas econômicos, como Índia, China e Brasil, começaram a pensar em forma de propor soluções para o maior número de cidadãos.
“Há uma mudança de mindset (modelo mental). Nosso país desenvolve várias pesquisas, mas ainda estamos distantes de produzir inovações tecnológicas”, observou.
Amazonas é ‘Top 10’
O Amazonas ocupa o 9º lugar no ranking dos estados com maior inovação tecnológica no Brasil, de acordo com o Índice da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) de Inovação dos Estados de 2018.  Na lista, o Amazonas figura em primeiro lugar na categoria que destaca a intensidade tecnológica da estrutura produtiva de cada unidade da federação.
A classificação tem por finalidade avaliar os aspectos e capacidades essenciais para o desenvolvimento dos estados brasileiros, que formam a base do crescimento da competitividade e produtividade estadual. O Índice é dividido em duas áreas, Capacidades e Resultado, que avaliam, respectivamente, o ecossistema de inovação e a inovação propriamente dita.
O estudo também aponta que o estado é o único da região norte a figurar nas primeiras posições do ranking dos mais inovadores do país. O segundo a aparecer na listagem é o Pará, que ocupa a 20ª colocação. No Índice Fiec, o Amazonas subiu seis posições na categoria “inserção de mestres e doutores na indústria”, e agora situa-se em 6º lugar. Em Competitividade Global em Setores Tecnológicos, o Amazonas é o terceiro melhor do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Pernambuco.
 

Fonte: www.acritica.com /  Foto: Junio Matos/freelancer