Retomada da economia movimenta o futebol na volta do público aos estádios

Dois anos após o início da pandemia da Covid-19, a retomada da economia no futebol brasileiro e mundial volta a recuperar fôlego. Mesmo com algumas restrições, clubes e empresas têm conseguido se movimentar com operação nos jogos, aumento do quadro de sócio-torcedor e ações que tem trazido alento aos cofres, tão castigados com o fechamento dos estádios e de público em boa parte de 2020.

A retomada nos cofres das equipes é evidente. Atual campeão da América, o Palmeiras faturou na temporada passada R$ 950 milhões, quase o dobro das receitas de 2020, e fechou a temporada com um superávit de R$123 milhões. O Flamengo, outra equipe que se destaca financeiramente, arrecadou R$1 bilhão. A quantia supera em R$ 50 milhões o faturamento do Rubro-Negro em 2019, quando a equipe contou com estádios lotados e venceu o Estadual, a Libertadores e o Brasileiro.

Campeão brasileiro na temporada passada, o Galo aproveitou a liberação de 100% da capacidade do Mineirão e angariou quase R$ 35 milhões de forma líquida em bilheteria. Além disso, o programa de sócio-torcedor ‘Galos na Veia’, que antes não chegava a 60 mil adeptos, hoje conta com quase 125 mil sócios adimplentes.

Clube com maior quadro de sócios-torcedores do país, o Internacional está perto de chegar a marca de 100 mil inscritos graças à retomada da torcida. Em setembro de 2020, por exemplo, o Colorado estava com 90 mil associados. Hoje esse número já chegou a quase 97 mil. “Isso está atrelado aos novos projetos e às campanhas realizadas. A ideia é que esse número aumente de forma relevante nos próximos meses”, revela Victor Grunberg, vice-presidente de administração e patrimônio do Sport Club Internacional.

No jogo entre Brasil e Chile realizado nesta semana, o Maracanã recebeu quase 70 mil pessoas, com um lucro de bilheteria de mais de R$ 6 milhões. Nos bastidores, o clima também foi de euforia nos negócios. Com camarotes lotados, marcas licenciadas e patrocinadores oficiais da CBF, como a Kavak, realizaram uma série de ativações, com a ida de diversas celebridades ao Maracanã, o lançamento do novo ônibus e a participação do mascote Canarinho interagindo pelas ruas cariocas. Em Teresópolis, a Kavak também fez a exposição do caminhão de entrega da companhia, com o Gift Box. Em meio a pandemia, a empresa chegou ao Brasil em julho de 2021 anunciando um investimento inicial de R$ 2,5 bilhões no país, colocando o Brasil como principal mercado da companhia no mundo.

Em São Paulo, a Gourmet Sports Hospitality (GSH), empresa de catering com foco na gestão e operação de alimentos e bebidas para arenas, estádios de futebol e casas de espetáculo, e que atua no Allianz Parque, do Palmeiras, aponta que teve um aumento de 20% no ticket médio em 2022 comparado com o mesmo período de 2020. Vale destacar que o setor de eventos registrou prejuízo de R$ 270 bilhões com a pandemia de coronavírus entre março e dezembro de 2020. As perdas levaram ao desemprego de 3 milhões de pessoas.

“Estamos falando do valor do faturamento bruto que temos no estádio, dividido pelo número de torcedores presentes. É até curioso por se tratar de um período pós-pandemia em que, em tese, o poder de compra das pessoas em geral diminuiu, mas elas estão gastando mais dinheiro em média neste ano em comparação com o mesmo período de 2020”, explica Mark Zammite, CEO da GSH.

De acordo com estudo realizado pela UEFA no último mês, o futebol europeu perdeu € 7 bilhões por conta da pandemia. Já as equipes tiveram um prejuízo de € 3 bilhões ao final da temporada 2020/2021. Antes da pandemia, as perdas foram de ‘apenas’ € 144 milhões. Em termos comparativos, o prejuízo passou a casa dos 2.000%.

Patrocinadora de Vasco, Bahia, Corinthians, São Paulo, Sport, Galo, Paysandu e Remo, a Cartão de TODOS entende que a retomada da economia também passa pela visibilidade com ativações em estádios. “Alguns dos nossos clubes possuem parceria na venda de ingressos, tendo o filiado desconto na hora de adquirir as entradas. Esse valor varia de acordo com o clube, mas pode ter 30% de desconto geralmente. Existe também os comerciais passando nos telões do estádio e a exposição com placas, que também ajudam o reforço de marca”, explica Victor Oliveira, gerente de comunicação e projetos do Cartão de TODOS.

Quem corrobora da mesma opinião é o porta-voz de outra empresa ligada ao futebol e parceria de uma das principais potências do país, o Atlético-MG. Fernando Lamounier, diretor executivo da Multimarcas Consórcios, destaca que o controle da pandemia foi muito produtivo aos patrocinadores.

“Nós aproveitamos o bom momento do Atlético-MG e colocamos em prática diversas ativações com torcedores do Galo. Na final da Supercopa do Brasil, levamos torcedores, que também são clientes da empresa, para um bar em Belo Horizonte e geramos experiências relacionadas ao clube. No Vasco, selecionamos consorciados para viver os bastidores do clássico contra o Botafogo, em São Luis-MA. São atividades que podem ser feitas com a retomada da torcida nos estádios, que movimentam a economia e trazem benefícios a clubes e patrocinadores”, explica.

O controle da pandemia, aliás, tão citado pelas marcas como fator importante para esta retomada, passou e muito pelo trabalho feito com o passaporte da vacinação em alguns estádios do país. Parceira da CBF, a empresa franco-brasileira Mooh!Tech criou o aplicativo Chronus i-Passport com esse objetivo, e avalia que o esporte em geral contribuiu fortemente para um mundo menos traumático neste período de retomada.

“Uma vez que além de todo o retorno financeiro que o mercado esportivo vai gerar, os eventos também são fundamentais para a recuperação mental e social de todos que passaram ou não pela doença. O novo ciclo de acontecimentos presenciais é promissor no Brasil, e os exemplos gerados no país como o GP São Paulo de F1 2021, Stock Car, jogos da seleção brasileira, entre outros, podem ser o novo modelo de referência para o segmento, demonstrando que as soluções que atestam ambientes seguros e responsáveis são o início de uma fagulha no que se refere ao uso de tecnologia para melhorar a experiência do usuário”, destaca Everton Cruz, CEO da empresa.

“Além do caráter sanitário, os eventos presenciais também têm surgido com novos formatos graças às tecnologias, e essas permitem a ampliação comercial com possibilidade de ações híbridas e engajamento online. A tecnologia vai continuar sendo a maior aliada nas organizações. Tenho certeza que tudo isso somado vai levar clubes, entidades e empresas para um outro patamar no que diz respeito aos seus faturamentos”, aponta.

Após manter-se na Série A em 2022, o Juventude mudou a linha de pensamento que vinha adotando em anos anteriores e aposta em projeção maior para este ano. Isso inclui, também, as ativações envolvendo o público em Caxias do Sul e a renovação de patrocínio com parceiros importantes, caso da multinacional New Holland. “O orçamento para a construção do CT já foi concluído. O investimento seria a construção de um prédio de 1,5 mil metros quadrados que permitiria aos jogadores se apresentarem diretamente lá. Esse é um projeto que vamos tentar executar através de recursos obtidos via leis de incentivo”, afirma o presidente Walter Dal Zotto.

Outro bom exemplo vem de Belém do Pará. A loja oficial do Remo, por exemplo, localizada nos arredores do Baenão, registrou uma arrecadação 30% maior quando o Leão joga em casa. Inaugurada em julho, a boutique é administrada pela Volt Sport, fornecedora de material esportivo do clube. “Com a estrutura que montamos, conseguimos receber os torcedores com toda a segurança necessária e sendo uma fonte de receita importante para a agremiação”, disse Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.

Levantamento da consultoria Sports Value em meados de 2021 apontou que a perda somada de receita em 2020, na comparação com 2019, dos 20 maiores clubes do país chegou a R$ 1 bilhão — o faturamento caiu de R$ 6,1 bilhão para 5,1 bilhão.

Fonte: Cultura  Foto: Bruno Teixeira/Corinthians

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