Relação do Brasil com a Argentina é mais importante do que a relação com Milei, diz nosso embaixador naquele país
O embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, afirmou que, para o presidente Lula, a relação com o país vizinho é “mais importante” do que a que ele tem com Javier Milei, seu atual mandatário.
Bitelli deu as declarações depois de ser chamado pelo governo para consultas sobre estratégias a serem adotadas nas tratativas do Brasil com o presidente argentino. Antes de falar sobre o tema, o embaixador teve uma breve conversa com Lula.
“[No encontro, Lula falou que] mais importante que a relação com Milei é a relação com a Argentina. A relação entre os países é o que interessa. A relação entre as pessoas pode ter mais afinidade, menos afinidade, proximidade ideológica, distância ideológica. O trabalho da embaixada em Buenos Aires, desde de dezembro do ano passado, é preservar a relação”, afirmou Bitelli.
Lula e Javier Milei têm trocado farpas publicamente nos últimos meses. Alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o argentino já chamou o petista de “corrupto” e “comunista”.
O presidente Lula tem evitado contra-ataques com esse tom, mas não esconde irritação com a postura de Milei.
O petista, por exemplo, criticou a decisão de Milei não comparecer à reunião do Mercosul em Assunção, Paraguai. Na véspera, o argentino participou de uma reunião de políticos da direita em Santa Catarina, onde se encontrou com Bolsonaro. Lula classificou como “bobagem imensa” a ausência do mandatário na reunião do bloco sul-americano.
Interlocutores de Lula avaliam as atitudes de Milei como “provocações” de quem coloca a ideologia acima dos interesses do seu país, mas o Brasil tem adotado uma posição pragmática, dentro do entendimento de que a diplomacia argentina segue mantendo conversações com a brasileira, sem interrupção das relações.
Comércio bilateral
O embaixador brasileiro disse que a relação Brasil-Argentina está passando por um momento “desafiador” e o governo brasileiro está preocupado em preservar os laços com o país vizinho.
“Há oportunidades novas que estão se abrindo na argentina, independentemente, das afinidades entre os governos. Por exemplo, no campo energético. A nossa ideia é buscar maneiras de aproveitar essas oportunidades”, declarou.
Bitelli destacou que a política econômica adotada por Milei tem gerado uma “retração muito forte” no consumo dos argentinos, o que tem afetado negativamente as trocas comerciais com o Brasil. Porém, para o diplomata, esse momento de retração é “circunstancial”.
Segundo o governo brasileiro, houve uma queda de 22% no comércio bilateral Brasil-Argentina na comparação entre os primeiros semestres de 2024 e 2023. As exportações brasileiras caíram 37,6%.
Por Redação