Quatro mudanças profundas na Venezuela desde que Maduro assumiu o poder

Quando Nicolás Maduro se tornou presidente em 2013, muitos na Venezuela acreditavam que seu mandato não duraria. Ele foi comparado desfavoravelmente ao seu antecessor, Hugo Chávez, um militar carismático que, depois de liderar uma tentativa fracassada de golpe em 1992, chegou ao poder pelo voto em 1998, tornando-se um líder de massas que prometeu uma “revolução bolivariana” – uma espécie de segunda independência.

Acusado de ser autoritário e até considerado por muitos um presidente ilegítimo, durante seu mandato o País passou por mudanças e acontecimentos que transformaram a história do País e da sociedade venezuelana.

Veja quatro dos momentos mais notáveis do governo de Maduro.

1. A maior onda migratória da história contemporânea da América Latina
Durante o governo Maduro, a Venezuela enfrentou a maior onda de migração da história contemporânea da América Latina. Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há 7,7 milhões de venezuelanos vivendo no exterior. Isso equivale a mais de 22% dos 34 milhões de habitantes que as autoridades venezuelanas projetavam ter no país, segundo o último censo realizado em 2011.

Com estes números, a onda migratória venezuelana é maior que a da Síria (5 milhões de pessoas) e a da Ucrânia (6,5 milhões), dois países que sofrem guerras há anos. Essa saída massiva de venezuelanos para o exterior vai totalmente na contramão da história de um país que, desde o início do boom do petróleo, há um século, tornou-se receptor de migrações e durante décadas foi um local de acolhimento para pessoas provenientes, sobretudo, de outros países da América Latina e da Europa.

Os especialistas concordam que por trás da saída massiva de venezuelanos está a grave crise econômica que a Venezuela viveu, que incluiu um longo período com a maior hiperinflação do mundo, bem como problemas crônicos de escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos.

2. O primeiro país latino-americano investigado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade

Em 3 de novembro de 2021, o promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, anunciou a abertura de uma investigação formal contra a Venezuela pela suposta prática de crimes contra a humanidade no contexto da repressão às manifestações durante a crise política que o país viveu em 2017.

3. Novo modelo econômico sem controles para combater a inflação mais alta do mundo

Em 2013, a economia venezuelana iniciou um declínio vertiginoso que em 2021 a levou a perder 75% do seu Produto Interno Bruto. Embora o agravamento da crise econômica tenha coincidido com a chegada de Maduro ao poder, algumas das suas causas tiveram origem nas políticas de Chávez.

Em 2003, o falecido presidente começou a aplicar um sistema rígido de controle cambial e de preços. Depois, a partir de 2006, lançou uma política de expropriações que afetou cerca de 1.440 empresas, segundo estimativas da organização industrial Conindustria.

Com a queda dos preços do petróleo a partir de 2014, Maduro recorreu a mais dívidas e à utilização de reservas internacionais para tentar preservar o mesmo modelo econômico de Chávez, mas a situação só piorou.

Em 2015, a Venezuela registrou uma inflação de 180% – a maior do mundo naquela altura – e em 2017 entrou num ciclo de hiperinflação que atingiu o seu pico em 2018, quando atingiu 130.000%, segundo dados do Banco Central da Venezuela.

É então, a partir de 2018, que o governo Maduro iniciou um processo silencioso de reformas econômicas, suspendendo efetivamente os controles cambiais e de preços, eliminando o subsídio à gasolina – que era a mais barata do mundo -, permitindo a dolarização de fato da economia e até mesmo lançando um diálogo com o setor privado para devolver algumas das empresas expropriadas aos seus antigos proprietários.

Essas medidas conseguiram colocar o País no caminho da superação da hiperinflação – que terminou em dezembro de 2021 – e, em certa medida, acabaram com os problemas de escassez (pelo menos para aqueles venezuelanos que têm rendimentos em moeda estrangeira e, portanto, podem pagar os altos preços dos produtos).

4. Queda histórica na produção de petróleo

Em 1998, quando Hugo Chávez venceu as eleições presidenciais, a produção de petróleo da Venezuela era de 3,1 milhões de barris por dia, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Em abril deste ano, a produção petrolífera da Venezuela era de 878 mil barris por dia, um valor muito baixo para o País que possui as maiores reservas comprovadas de petróleo bruto do mundo: mais de 300 bilhões de barris. As informações são da BBC.

Por Redação

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