Presidente do Parlamento Europeu anuncia reforma após escândalo de suborno

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, anunciou nesta quinta-feira (15) o início de uma “ampla reforma” dos mecanismos de controle da instituição em resposta ao escândalo que levou à prisão da eurodeputada grega Eva Kaili, suspeita de envolvimento em um escândalo de corrupção relacionado ao lobby feito pelo Catar na União Europeia (UE).

— A partir de hoje [quinta], estou preparando um pacote abrangente de reformas que deve estar pronto no Ano Novo. Isso incluirá o fortalecimento dos sistemas de proteção de denunciantes — disse Metsola após discursar em uma cúpula de líderes da UE.

O pacote de reformas, acrescentou, também se concentrará em “uma proibição [do acesso] a todos os grupos de amizade não oficiais, uma revisão das regras de nosso código de conduta e uma revisão completa de como interagimos com países terceiros”. Segundo Metsola, há brechas no atual regulamento que devem ser resolvidas.

— Há fissuras que temos de fechar, como quando falamos, por exemplo, da atividade de ex-deputados do Parlamento Europeu, de quem está na lista da transparência ou de quem pode entrar no Parlamento Europeu — afirmou.

Eva Kalil

Na terça, o Parlamento Europeu decidiu destituir Kalil de uma das suas vice-presidências por uma maioria acachapante de 625 votos a favor, um contra e duas abstenções. Ela já havia sido afastada oficialmente de suas funções como vice no fim de semana por Metsola, mas a votação era necessária para formalizar sua destituição.

Os advogados da política recém-expulsa do grupo europeu Socialistas e Democratas (S&D) e do Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), de centro-esquerda, afirmam que ela é inocente. Segundo seu advogado em Atenas, Michalis Dimitrakopoulos, ela “não sabia da existência” da vultosa quantia de dinheiro vivo encontrada pelos investigadores belgas em sua residência.

Catargate

Kaili e outras três pessoas foram formalmente denunciadas por participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. Nesta quinta-feira, a Promotoria-Geral da UE solicitou ao Parlamento Europeu que retire a imunidade de Kaili, assim como da eurodeputada grega Maria Spyraki.

Em uma nota, a promotoria afirma que o pedido se apoia em “uma suspeita de fraude em prejuízo do Orçamento da UE em relação à gestão da atribuição parlamentária e, em particular, em respeito à remuneração dos assistentes parlamentares”.

Apelidado de “Catargate”, o escândalo é um dos maiores da história recente do bloco europeu e resultado de meses de investigação. A Justiça belga, que não cita o Catar pelo nome, afirma que um país do Golfo Pérsico ofereceu “quantidades substanciais de dinheiro” ou “subornos importantes” a pessoas com uma “posição política ou estratégica significativa” no Parlamento Europeu para “influenciar nas decisões políticas”.

Além de Kaili, também estão detidos o ex-eurodeputado Pier-Antonio Panzeri, que atualmente presidia a ONG Fight Impunity, e o parceiro de Kaili, Francesco Giorgi, que é conselheiro de assuntos do Oriente Médio e Norte da África no Parlamento Europeu e ex-assistente de Panzeri.

O quarto denunciado é Niccolò Figà-Talamanca, diretor-geral da ONG No Peace Without Justice (“Não há paz sem justiça”, em tradução livre), que trabalha com a promoção dos direitos humanos, democracia e justiça no Oriente Médio e no Norte da África. A mulher e a filha de Panzeri, segundo a imprensa italiana, também teriam sido detidas.

Nesta quinta-feira, a promotoria financeira de Atenas abriu uma investigação preliminar sobre Kaili por “corrupção” e “lavagem de dinheiro”, em cooperação com a Justiça belga, disse uma fonte judicial sob condição de anonimato à AFP.

Na segunda-feira (12), a autoridade grega de combate à lavagem de dinheiro anunciou o congelamento de todos os ativos da política socialista. A presidente do Parlamento Europeu disse também, nesta quinta-feira, que recebeu um convite formal do Catar para visitar o país para a Copa do Mundo, mas recusou.

— Rejeitei porque tenho preocupações em relação a esse país — disse Metsola, acrescentando que também descartou um pedido de representantes do Catar para falar perante o plenário do Parlamento Europeu.

Catar nega

O governo do Catar nega “categoricamente” qualquer envolvimento com “conduta inapropriada” e garante que suas instituições “funcionam sempre em total cumprimento das leis e regulações internacionais”.

Kaili tem sido uma defensora contundente do país-sede da Copa do Mundo, recentemente chamando-o de “líder nos direitos trabalhistas” após uma reunião com o ministro do Trabalho catari, apesar da enxurrada de notícias sobre as más condições enfrentadas durante a construção dos estádios.

Por Redação

Mostrar Mais
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *