Precisou sair? Especialistas dão dicas para evitar trazer o vírus para casa
A orientação da ciência é clara: para evitar pegar a covid-19 ou contaminar outras pessoas, fique em casa e saia apenas se isso for necessário.
Para uma parte da população, no entanto, sair é inevitável —são pessoas que trabalham nas profissões ditas essenciais, aquelas que podem continuar em funcionamento durante a crise: profissionais de saúde, segurança, transporte e outros. E em algum momento é possível que todos tenham de ir ao mercado ou à farmácia.
Como agir para evitar trazer o vírus para dentro de casa? O mais importante, dizem especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, é manter a higiene das mãos e evitar tocar o rosto. Assim, aumenta-se a chance de que a corrente de transmissão se quebre, mesmo que você tenha tocado em alguma superfície onde o vírus esteve.
O que mais podemos fazer? A BBC News Brasil ouviu especialistas e reúne aqui algumas dicas:
Primeiras medidas ao chegar
Quando entrar em casa, tire os sapatos e lave as mãos por 20 segundos com água e sabão. Tire as roupas, separe-as para lavar e tome um banho.
Deixe coisas como chaves, carteira e bolsa, em um lugar próximo à entrada.
Como e quando fazer uma boa limpeza na casa?
O ministério da Saúde e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil recomendam a limpeza com os produtos já usados. “Uma coisa boa é que todos os produtos de limpeza que usamos com frequência em casa matam o coronavírus”, diz o chefe de infectologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz.
Pode-se dar preferência para o uso da água sanitária, diz o ministério (em uma solução de uma parte de água sanitária para 9 partes de água) para desinfetar superfícies.
Superfícies em que tocamos muito devem ser higienizadas com mais frequência, dizem especialistas: maçanetas, interruptores, mesas, puxadores de gaveta, torneiras. Isso pode ser feito uma vez ao dia. “O que importa mais é a limpeza mecânica”, diz o diretor da Associação Brasileira de Infectologia, Marcos Cyrillo —ou seja, esfregar vigorosamente.
O uso de luvas é recomendável. Isso para que as mãos não fiquem secas devido à química dos produtos de limpeza, diz Marcos Cyrillo. Se ficarem assim, elas pode acabar mais suscetíveis a vírus e bactérias, que podem penetrar mais facilmente em peles secas e com rachaduras. Recomenda-se a lavagem das mãos antes e depois da limpeza.
Itens como almofadas e tapetes podem ser limpos seguindo recomendações dos fabricantes. Ainda não se sabe quanto tempo o vírus fica ativo em tecidos.
“Para a higienização das louças e roupas”, diz o ministério da Saúde, “recomenda-se a utilização de detergentes próprios para cada um dos casos. Destacando que é importante separar roupas e roupas de cama de pessoas infectadas para que seja feita a higienização à parte. Caso não haja a possibilidade de fazer a lavagem destas roupas imediatamente, a recomendação é que elas sejam armazenadas em sacos de lixo plástico até que seja possível lavar”.
Para a limpeza do seu aparelho celular, que deve ser feita regularmente, o Centro Para Controle de Doenças dos Estados Unidos recomenda que siga as instruções do fabricante para limpeza e desinfecção. Se não houver nenhuma orientação, use um pano umedecido com álcool de concentração de pelo menos 70% para desinfetar as telas.
O que fazer com itens de mercado?
Especialistas dizem que deve-se lavar as mãos assim que chegar das compras e depois de guardá-las. Eles reforçam que mais importante do que limpar as embalagens é ter as mãos limpas e evitar tocar no rosto, assim, evita-se a infecção por qualquer micróbio.
Uma pesquisa publicada na revista científica New England Journal of Medicine testou a presença do vírus em alguns materiais e concluiu que ele permanece por mais tempo em plástico e aço, sobrevivendo por até 72 horas. No entanto, a concentração de vírus diminui consideravelmente nesse período. A meia-vida, ou seja, o tempo que leva para a concentração do vírus ser reduzida à metade, é de 5,6 horas em aço e 6,8 em plástico.
Isso traz implicações para itens de mercado. Segundo o virologista Edison Durigon, professor da Universidade de São Paulo (USP), se o item vai ser usado imediatamente, é bom higienizar com álcool 70%. Isso vale também para entregas de restaurante.
Como medida adicional de precaução, dizem especialistas, produtos podem ser retirados da embalagem e colocados em outra, se possível, ou a embalagem pode ser higienizada antes de ser guardada. É bom que o armário também esteja limpo. Isso vale para evitar contágio por coronavírus e outros micróbios.
Durigon diz, no entanto, que o risco de contaminação por pacotes, depois de algumas horas, não é alto pois o vírus não estará mais presente naquela superfície em concentração significativa.
A coordenadora do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) da Universidade de São Paulo (USP), Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, explica que alimentos frescos podem servir como um veículo transmissor do vírus, se alguém que estava infectado tiver lidado com o produto, por exemplo —por isso é importante limpá-los corretamente.
No entanto, não há evidências de que os alimentos em si possam estar infectados, ou seja, de que o vírus possa se multiplicar nos alimentos.
Para alimentos que serão consumidos crus, como saladas, a coordenadora do FoRC recomenda que se adote a rotina de higiene usada para combater bactérias. As folhas com manchas devem ser removidas, o alimento deve ser higienizado com água tratada e, em seguida, imerso por 15 minutos numa solução de água sanitária e água tratada. Ela deve ser composta por uma colher de sopa de água sanitária e um litro de água. Por fim, o alimento deve ser lavado novamente em água corrente.
O processo de cozimento eliminaria vírus e bactérias, mas é importante evitar que depois de cozidos entrem em contato com superfícies contaminadas.
Joseph Allen, professor do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, que pesquisa a interação entre ambientes e doenças, diz que o risco de contaminação por pacotes entregues pelo correio ou por itens do mercado existe, mas é “pequeno e controlável”, como escreveu em artigo de opinião publicado no jornal americano The Washington Post.
Isso porque, diz ele, é necessário que uma série de fatores se combinem para que a pessoa se contamine com esses produtos. Tomar precauções, como fazer a limpeza do produto, reduz significativamente a chance de todos acontecerem ao mesmo tempo.
“Se você esperar algumas horas até usar o que acabou de comprar, a quantidade de vírus que estava no pacote (se havia) será significativamente reduzida. Se você precisar usar algo imediatamente e quiser tomar precauções extras, limpe a embalagem com um desinfetante. Por último, lave todas as frutas e legumes como faria normalmente”, escreveu o especialista.
O professor Joseph Allen também dá recomendações se você recebeu uma encomenda. Você pode deixar o pacote à sua porta por algumas horas, ou trazê-lo para dentro de casa, escreveu ele, e depois lavar as mãos. “Se você ainda estiver preocupado com a presença de vírus na embalagem, limpe o exterior com um desinfetante ou abra-o ao ar livre e coloque a embalagem na lata de reciclagem. Depois lave as mãos novamente”, escreveu ele.
Como devo manter a ventilação?
É bom manter os ambientes naturalmente ventilados, ou seja, com janelas abertas, dizem os especialistas ouvidos pela BBC. Isso porque a circulação de ar diminui a concentração do vírus no ambiente.
Ainda não há consenso se o vírus pode ser transmitido por aerossóis, isto é, pequenas partículas que ficam suspensas ao soltarmos ar pelo nariz e pela boca; tampouco se sabe por quanto tempo o ar de um ambiente pode ficar infeccioso se uma pessoa contaminada esteve ali.
Luiza Franco
Fonte https://www.bbc.com
https://www.uol.com.br