O WWW faz 26 anos, em domínio público que permitiu expansão da Internet como conhecemos

O nascimento da World Wide Web em domínio público é comemorado nesta quarta-feira, 30 de abril. A data ficou marcada em 1993 quando o CERN anunciou que o sistema seria gratuito para qualquer pessoa e liberou todas as suas ferramentas. Foi o caráter aberto do software-base que permitiu o avanço da Internet e o boom de blogs, redes sociais e demais sites.
Isso também significa que – há exatos 26 anos – estavámos presenciando a revolução da comunicação mundial e da forma como compartilhamos conhecimento. “Há pouquíssimas inovações que realmente mudaram tudo”, comentou o CEO do World Wide Web Consortium, Jeff Jaffe, em março deste ano. “A Web é a inovação mais impactante do nosso tempo”.
A World Wide Web nada mais é do que um sistema de documentos armazenado na Internet que permite aos usuários acessarem textos exibidos em formato digital – que podem ser imagens, sons, vídeos e textos propriamente ditos. Mas este sistema só pode ser alcançado por um programa de computador: o famoso navegador.

Em resumo, podemos dizer que a World Wide Web é o caminho que nos permite usufruir de todo o conteúdo disponível na Internet. Atualmente, vivemos na chamada Web 3.0 – fase caracterizada por sistemas de busca cada vez mais inteligentes e pela publicação de conteúdos personalizados. Antes disso, no início dos anos 2000, a Web 2.0 era conhecida pela forte interação entre páginas e usuários, que passavam a criar seu próprio conteúdo em vlogs e fotologs.
“Milhares de pessoas trabalharam em conjunto para construir o início da Web em um espírito incrível de colaboração; outras dezenas de milhares inventaram os aplicativos e serviços que a tornam tão útil para nós nos dias de hoje, e ainda há espaço para cada um de nós criar coisas novas sobre e através da Web. Esta é para todos”, escreveu o físico britânico e inventor da WWW, Tim Berners-Lee, no aniversário de 25 anos do sistema.
Quase três décadas após a World Wide Web se tornar pública, as estimativas apontam para a existência de aproximadamente 2 bilhões de sites. E cada vez mais as pessoas dependem do ambiente virtual – não importa se é para trabalhar, estudar, checar e-mails ou apenas para assistir a vídeos de gatinhos no YouTube. Ninguém mais consegue imaginar uma vida sem a Web. Só no Brasil, são mais de 120 milhões de domicílios conectados, segundo o Comitê Gestor da Internet (CGI).
Só que quando a proposta da WWW foi apresentada por Berners-Lee em 1989, o sistema não despertou o mesmo fascínio. Ao comentar o projeto, o supervisor do físico, Mike Sendall, disse que a proposta era “vaga, porém empolgante” e lhe ofereceu tempo para apresentar um fluxograma modesto e, em seguida, um modelo de trabalho.

Começo da revolução

A World Wide Web não foi originalmente criada para ser usada por qualquer pessoa e de forma gratuita. Em 1989, Tim Berners-Lee desenvolveu o projeto ENQUIRE para a criação de um sistema simples que pudesse integrar os documentos gerados pelos 100 mil cientistas que trabalhavam no CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire ou Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear).
Na época, cada cientista usava hardwares e softwares diferentes, que dificultavam o compartilhamento automatizado de informações entre colegas de trabalho e institutos de todo o mundo.

Robert Cailliau, engenheiro de sistemas do CERN, foi o primeiro parceiro de Tim Berners-Lee no projeto WWW. Imagem: Divulgação / CERN

Este primeiro sistema pode ser chamado de rascunho do que viria a ser a World Wide Web. Em 1984, depois de se afastar um tempo do CERN, o físico voltou e percebeu que o sistema poderia passar por uma “reforma”. Ele ainda funcionava bem, mas a nova proposta era criar algo mais fácil de utilizar. Assim nasceu a WWW, a tecnologia universal para acessar documentos de hipermídia em qualquer servidor do mundo.
A proposta foi apresentada em 21 de março de 1989 para o CERN, que deu o sinal verde – depois que Berners-Lee melhorou o projeto. Em apenas um ano, o físico conseguiu desenvolver o que precisava para que a Web funcionasse: um navegador simples batizado de WorldWideWeb, um software para transformar o PC em servidor e os primeiros sites – que explicavam o projeto.

Para construir tudo isso, o físico usou o computador NeXTcube, da empresa NeXT, fundada por Steve Jobs. A máquina se tornou o primeiro servidor da história da Web e contava até com um bilhete escrito por Berners-Lee que dizia: “Esta máquina é um servidor. NÃO DESLIGUE!”. O computador ainda é preservado pelo CERN como um item histórico.

Curiosidades

Existem algumas curiosidades sobre a criação da World Wide Web. A primeira delas é sobre o termo escolhido por Berners-Lee. Antes de se decidir por “Web”, o físico considerou nomes como “The Information Mesh” e “The Mine of Information”, algo que poderia ser traduzido como “Malha de informações” ou “Mina de informação”. E cá entre nós, as alternativas nem soam tão bem assim.
Outro exemplo é a barra dupla “//” em URLs, uma sugestão de Berners-Lee copiada do sistema de arquivos “domínio” da estação de trabalho Apollo.
Estas e outras informações foram compiladas pelo Pew Research Center, que publicou fatos desconhecidos da World Wide Web no aniversário de 25 anos de criação do sistema.
Algumas curiosidades também marcaram o ano de 1990. Naquele momento, 42% dos americanos adultos haviam usado um computador e Archie, o primeiro buscador da Internet, foi desenvolvido por estudante Alan Emtage da Univerisade McGill.
No ano seguinte, pesquisadores criaram uma exibição ao vivo de uma máquina de café para que pudessem ver pela tela do computador quando um pote fresco havia sido preparado. Aquele seria o precursor da webcam.
De acordo com os pesquisadores, a ideia nasceu para facilitar suas vidas em laboratório. Isso porque era necessário percorrer vários andares para chegar até a “sala do café”, e muitas vezes a cafeteira era encontrada vazia. Então, eles decidiram pegar um gravador de vídeo e colocar em um suporte para monitorar a máquina de café. Em seguida, um deles escreveu um programa de “servidor” para que as imagens pudessem ser capturadas em poucos segundos. Um segundo pesquisador criou um programa para que a exibição em ícone pudesse rodar no computador de todos. A imagem era atualizada cerca de três vezes por minuto.
Já em 1992, Berners-Lee publicou a primeira foto da Internet, da banda Les Horribles Cernettes. Dois anos mais tarde, a Pizza Hut criaria o primeiro site de vendas para anunciar sua pizza de pepperoni.

Em 1996, a Nokia lançou o primeiro celular com capacidade para acessar a Internet, o Nokia 9000 Communicator. Naquele ano, também foi publicado o primeiro vídeo viral, que foi de um bebê em 3D:

Rumos da Web

A coleta de dados e o uso de informações pessoais para o direcionamento de anúncios é um assunto polêmico, e uma notícia reacendeu a discussão neste ano, quando o inventor da World Wide Web, Tim Berners-Lee, declarou que quer devolver o controle de dados privados aos usuários.
Berners-Lee passou a apoiar a tecnologia de código aberto Solid, criada para extrair informações pessoais das empresas que direcionam anúncios ou das que participam de esquemas de manipulação política.
A partir da Solid, usuários poderiam armazenar seus dados em “casulos online” gerenciáveis. Dessa forma, seria possível compartilhar as informações quando quiser e também impedir o uso de determinados dados pessoais. “Queremos usar a tecnologia para fazer uma correção no meio do caminho”, comentou o físico.
Não foi a primeira vez que Berners-Lee pede uma reforma da web desde que escreveu e compartilhou o software inicial para que as pessoas pudessem publicar seus próprios sites e ler outros. Há anos, o inventor vem pedindo melhorias no ambiente virtual e acrescentou as notícias falsas e a adulteração de eleições à sua lista de “doenças” que estão contaminando a internet.
No aniversário de 30 anos da World Wide Web, que aconteceu em março, ele pediu ações coletivas para resolver tais problemas. Agora, sua esperança recai sobre a Solid, mas ele reconhece as dificuldades para que a nova tecnologia dê certo no ambiente online: seria preciso persuadir muitos desenvolvedores a criarem um software que funcione com a Solid e ainda convencer usuários comuns a financiarem a Internet. Hoje, esse papel é desempenhado pelos anúncios.
Mas, para Berners-Lee, vale a pena enfrentar esses problemas. “Não há mais a Cambridge Analytica tentando coletar dados de milhões de usuários para análise política. O projeto Solid é sobre transformar a forma como a web funciona”, disse.
O físico também discute desafios como as alternativas que existem para conectar dois terços da população mundial que ainda não têm acesso à internet.

Fonte: GoogleCERN, Pew Research Center e Trojan Room Coffe Pot Biography / canaltech.com.br

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