O que mudou (e o que não mudou) na Venezuela nos últimos 10 anos
A crise profunda que a Venezuela viveu entre 2016 e 2018 se amenizou, mas está longe de ser resolvida. O chefe do Executivo, Nicolás Maduro, está na função desde 2013, quando Hugo Chávez, o então presidente, morreu de câncer. Maduro ingressou na vida política na década de 1990 e está à frente de um governo bastante polêmico.
O país, que já foi um dos mais ricos e prósperos da América Latina, atualmente está entre os mais pobres.
Em uma década, a economia venezuelana encolheu 75% e quase um quarto da população (7 milhões, de um total de 30 milhões) deixou o país. A Venezuela já não é tão rica como nos anos 1960 ou 1970, mas também não é tão pobre como em 2018. A moeda agora é o dólar, há restaurantes tão caros como em Nova York e a gasolina agora é paga.
Num país que outrora teve um Estado generoso e redistributivo e uma classe média relativamente estabelecida, a desigualdade, a pobreza e a ineficiência dominam a região. E a economia, em geral, está em constante transformação.
Mas também há muita coisa que não muda: nem a política, nem a infraestrutura mudam como as pessoas gostariam.
O que não muda
Não muda ver publicidade de cervejas e produtos de beleza em enormes outdoors nas rodovias promovidos por mulheres esbeltas, voluptuosas e seminuas; uma imagem já inusitada em outras partes do mundo que ali se mantém.
Assim como persiste a tendência do venezuelano em fazer fila. Não mais na fila para comprar insumos básicos para sobrevivência, mas, para se registrar em um novo sistema de pagamento de eletricidade. Durante anos a eletricidade foi quase gratuita, mas agora começaram a cobrar por ela, apesar de muitas regiões ainda sofrerem cortes diários de energia.
E tudo o que funciona mais ou menos na capital, Caracas, é pior no resto do país, onde a pobreza é maior e os serviços são mais deficientes. A disparidade capital-interior, portanto, não mudou.
Também não mudou aquela ineficiência do sistema que gera distorções insólitas.
Por exemplo: para entrar no metrô de Caracas agora existem duas filas, uma para comprar a passagem e outra para esperar quando as catracas deixam uma entrada gratuita após a passagem de alguém.
Não é que o sistema seja feito para dar passagens gratuitas aleatoriamente, mas sim que as catracas geram um erro, que já está normalizado.
O que muda
Com a dolarização não oficializada pelo Estado, para muitos venezuelanos tornou-se mais lucrativo ter empregos informais, pagos em dólares, do que empregos formais, pagos em bolívares (moeda local).
A tendência desencadeou trabalhos de reparos, vendas ambulantes, apostas digitais em videojogos e negócios artesanais e domésticos porta-a-porta.
O impacto deste novo setor informal é tão grande que, segundo a empresa de pesquisa Datanalisis, quase 4 milhões de pessoas nos últimos três anos ascenderam socialmente através do “empreendedorismo criativo”.
Assim que a economia foi reativada com a dolarização, saíram às ruas para ver o que conseguiam inventar. É por isso que há um boom de bingos em todo o país. É porque existem novos e bem sucedidos estabelecimentos de pasticho (uma espécie de lasanha) e cachito (um tipo de croissant recheado com presunto e queijo), duas comidas típicas.
É por isso que, segundo o Global Entrepreneurship Monitor, um centro de estudos, 16% da população está começando um novo negócio. Na década passada, o crime transformou a Venezuela num dos países mais perigosos do mundo.
Mas agora, depois de uma controversa política de segurança linha dura, o sentimento de insegurança diminuiu. Essa é outra mudança, para muitos temporária. Mas a tendência ajudou muitos venezuelanos a regressar ao país; a maioria não para ficar, mas para visitar.
Por Redação