O que está acontecendo na França? Entenda o motivo dos protestos

A França assistiu a sua terceira noite consecutiva de protestos, com cerca de 875 pessoas sendo presas pelas autoridades. As manifestações começaram após um jovem de 17 anos ter sido morto por policiais, o que trouxe à tona a insatisfação popular a respeito da violência policial no país.

Um jovem chamado Nahel M., que trabalhava como entregador, levou um tiro da polícia na terça-feira (27), na cidade portuária de Marselha, no sul da França. Segundo informações oficiais, o rapaz teria sido abordado por dois policiais por estar infringindo as leis de trânsito.

Inicialmente, o oficial envolvido no caso disse ter disparado contra o jovem porque ele estaria dirigindo o carro contra ele e seu companheiro policial. Porém, essa versão foi desmentida por vídeos que circulam na internet.

A filmagem, verificada pela agência de notícias “AFP”, mostra os dois policiais ao lado do carro parado, com um deles apontando uma arma para o motorista. É possível escutar uma voz dizendo: “Você vai levar uma bala na cabeça.”

O policial, então, parece atirar no motorista à queima-roupa enquanto o carro arranca abruptamente, avançando algumas dezenas de metros antes de bater. Nahel teria falecido logo em seguida.

O oficial, de 38 anos, que seria responsável pelo tiro foi preso e está sendo investigado por homicídio culposo.

O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que o tiroteio foi “inexplicável e imperdoável” e que o incidente “comoveu toda a nação”. “Nada pode justificar a morte de um jovem”, disse Macron.

Violência policial

Com a repercussão do vídeo da morte do jovem Nahel, iniciou-se um debate sobre táticas policiais em áreas de baixa renda e locais onde vivem grupos étnicos minoritários. Segundo o jornal francês “Le Monde”, 13 pessoas foram mortas pela polícia em 2022 por se recusarem a parar em abordagens no trânsito.

Esse tipo de violência também estaria sendo relacionado a uma mudança na legislação francesa em 2017, que concedeu poderes mais amplos à polícia sobre o uso de armas.

De acordo com um relatório divulgado pela Inspetoria Geral da Polícia Nacional da França no ano passado, 37 pessoas foram mortas durante operações policiais no país em 2021, incluindo 10 pessoas mortas a tiros. O relatório constatou que a polícia usou suas armas 290 vezes, incluindo 157 tiros disparados contra veículos em movimento.

Repercussão dos protestos

Os protestos começaram após o incidente ter viralizados nas redes sociais. A mãe de Nahel, Mounia, inclusive liderou alguns manifestantes, pedindo por justiça. Mas com o passar dos dias, as manifestações se tornam mais violentas e se espalharam para cidades como Paris, Lyon e Lille. Já há relatos de lojas em Paris sendo apedrejadas e invadidas por manifestantes.

Com a escalada dos protestos, mais de 40 mil policiais foram mobilizados para manter a paz. Macron, então, passou a criticar a violência das manifestações e chegou a pedir que os pais não levassem seus filhos para os encontros populares.

“A violência contra delegacias, escolas, prefeituras, contra a República é injustificável. Obrigado à polícia, policiais armados, bombeiros e representantes eleitos que se mobilizaram. As próximas horas devem ser marcadas pela contemplação, justiça e calma”, escreveu Macron no seu twitter.

Essa não é primeira vez que a atuação policial gera revolta entre os cidadãos franceses. Em 2005, a morte de dois adolescentes escondidos da polícia provocaram três semanas de protestos e levaram o governo a convocar estado de emergência.

Por Redação

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