Morte da rainha Elizabeth II: os cinco desafios de Charles III como rei
Em tese, poucas transições são tão suaves quanto uma sucessão da monarquia britânica: menos de 48 horas após a morte da rainha Elizabeth II, o rei Charles III foi oficialmente proclamado o novo soberano do Reino Unido.
Mas as coisas não são tão simples: Charles subiu ao trono em um momento desafiador para o país e para a família real. Historiadores acreditam que o novo rei enfrenta “desafios sem precedentes” que definirão — para o bem ou para o mal — seu reinado e os que se seguirão.
Charles vai enfrentar muitos testes: desde lidar com o impacto que a crise de energia está tendo no país, até enfrentar a mudança de percepção da monarquia após o governo de sua falecida mãe ao longo de 70 anos.
Milhões de famílias na Grã-Bretanha enfrentam uma potencial escassez de combustível neste inverno devido à disparada dos preços de combustíveis fósseis desencadeada pela guerra na Ucrânia. As previsões mais pessimistas dizem que até 45 milhões de pessoas terão dificuldades para pagar suas contas — ou seja, dois terços da população do país.
Esse cenário provavelmente colocará as finanças da família real sob mais escrutínio do que o habitual. De fato, mesmo antes da guerra, havia rumores na imprensa britânica de que o então príncipe de Gales estava disposto a diminuir a pompa e circunstância das ocasiões reais — o que inclui sua coroação, que deve acontecer depois de junho de 2023 (após um período de luto pela morte da rainha).
Citando fontes próximas à família real, o jornal britânico Daily Telegraph disse que a coroação de Charles III será mais curta, “menos cara” e, crucialmente, mais multicultural, para refletir a diversidade da sociedade britânica.
Reputação em declínio
O apoio à monarquia está em seu ponto mais baixo em mais de 30 anos, de acordo com o British Social Attitudes Survey, uma pesquisa que mede regularmente os sentimentos de uma amostra da população britânica em relação à realeza.
A última edição da pesquisa, publicada em 2021, mostrou que 55% dos britânicos achavam “muito importante” ou “bastante importante” ter uma monarquia. Nas décadas anteriores, esse apoio oscilava entre 60% e 70%.
Em maio deste ano, Charles apareceu em terceiro lugar na lista dos membros da realeza favoritos da população, atrás da rainha e de seu filho mais velho, o príncipe William. Embora as pesquisas realizadas após a morte de Elizabeth II tenham mostrado crescente apoio ao novo rei, há sinais de que Charles tem trabalho a fazer para melhorar a reputação da família real.
Poder simbólico
O rei Charles III é o chefe de Estado no Reino Unido. Mas sob o modelo de monarquia constitucional britânica, os poderes do soberano são principalmente simbólicos e cerimoniais. Assim, espera-se que os membros da família real permaneçam politicamente neutros.
A postura comedida da falecida rainha foi vista por muitos como resultado de sua crença no ditado “nunca reclame, nunca explique”.
No passado, Charles costumava se expressar sobre diferentes assuntos que considerava importantes. Em 2015, foi revelado que ele havia escrito dezenas de cartas a ministros do governo expressando preocupações sobre questões que iam de fitoterapia ao orçamento público e as Forças Armadas.
Legado colonial
Após a morte de sua mãe, Charles tornou-se o chefe da Commonwealth, uma associação política de 56 países, principalmente ex-colônias britânicas. Ele também é o chefe de Estado de 14 países além do Reino Unido — uma lista que inclui Austrália, Canadá, Jamaica e Nova Zelândia.
O legado colonial do Reino Unido coloca a monarquia sob escrutínio
A viagem do príncipe William ao Caribe no início de 2022 estimulou protestos anticoloniais e pedidos de reparação pela escravidão na região. O primeiro-ministro jamaicano Andrew Holness disse publicamente à realeza que o país está “seguindo em frente”.
Rei “veterano”
Aos 73 anos, Charles III é a pessoa mais velha a ser proclamada rei na Grã-Bretanha. Uma das questões sobre o dia-a-dia de seu reinado é quanto da extensa lista de deveres reais ele próprio conseguirá cumprir.
Há muita especulação de que seu filho e herdeiro da coroa, o príncipe William, irá compartilhar o fardo dos compromissos reais, especialmente as viagens ao exterior. A própria rainha Elizabeth II parou de viajar para o exterior aos oitenta anos.
É esperado que o príncipe William assuma parte dos compromissos reais.
Como ficou claro pelas manifestações de pesar em todo o país após sua morte, Elizabeth II era uma monarca extremamente popular.
Isso por si só é um desafio para o novo rei — mas não insuperável e nem inédito, de acordo com a historiadora real Evaline Brueton.
Ela afirma que o rei Edward VII passou pela mesma situação quando herdou a coroa em 1901, após a morte da rainha Vitória, outra monarca muito popular e longeva.
Por Redação
J. Cícero Alves
Artigo perfeito e bastante esclarecedor. Parabéns !