Ministro diz que há excesso de hospitais no Brasil
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, diz que o Brasil precisa caminhar para um modelo de atendimento à saúde que reduza a hospitalização
São Paulo – O sistema de saúde no Brasil poderia funcionar com um quinto dos hospitais disponíveis, segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Durante sua participação no EXAME Fórum Saúde, ele disse que é preciso tirar dos hospitais os pacientes que não precisam de cuidados emergenciais. “Temos de dispor do leito para quem de fato pode ser salvo pelos equipamentos do hospital.” Para Barros, o governo federal tem cumprido o papel de financiar metade dos custos com a saúde, mas há desequilíbrio na distribuição do dinheiro público. “Alguns são financiados adequadamente; outros, não”, afirma. “É esse Frankenstein que temos de mudar.”
O Brasil tem mais de 7.500 hospitais. É o suficiente?
Poderíamos resolver tudo com 1.500 hospitais. Esse é o dado estatístico com base numa análise criteriosa de atendimentos. Por que não fechamos hospitais? Por uma questão política. É difícil fechar um hospital. Por isso, estamos propondo medidas como a formação de consórcios de gestão e rateio de custos. Dessa forma, a decisão de fechar uma unidade ou de ampliá-la não será mais do gestor local, será do conjunto dos que financiam o serviço.
Se a estrutura é suficiente, por que há hospitais com filas?
Precisamos otimizar as estruturas disponíveis no sistema de saúde pública. Um terço das unidades de terapia intensiva é ocupada por pessoas sob cuidados paliativos. A pessoa está num hospital que tem tomógrafo, ressonância, centro cirúrgico, ocupando um leito para não usar nada disso. Temos de dispor desse leito para quem de fato pode ser salvo por essa estrutura. A reclamação de que leitos estão fechando é apenas a comprovação da eficácia do novo modelo, com estruturas como hospital-dia e saúde da família criadas para diminuir a hospitalização.
Na busca por eficiência, será adotado o prontuário eletrônico. Como garantir a segurança das informações?
Até o final de 2018, teremos todos os brasileiros com o prontuário eletrônico. Estamos usando o modelo de biometria do Tribunal Superior Eleitoral, porque a lei exige que o modelo seja padrão, e isso dará muita segurança e nos permitirá economizar. Não repetiremos mais consultas, exames, nem a entrega de medicamentos.
Por que o Brasil tem unidades básicas e de pronto-atendimento fechadas?
Porque elas viraram moeda de troca política. O prefeito constrói e, quando a unidade fica pronta, não tem como operá-la. Nós vamos liberar algumas delas para funcionar como complemento do serviço de saúde do município. O gestor poderá usar o prédio para o que é mais adequado ao interesse da população.
Há falta de racionalidade no sistema de saúde?
Temos de corrigir vários itens da tabela SUS. Por exemplo, na biopsia de mama, o que nós pagamos não alcança nem o preço da agulha. Isso diminui a execução da biopsia de mama, reduz a identificação precoce de câncer e aumenta o custo do tratamento. Mas a tabela SUS nunca foi feita para pagar 100% dos custos. E, se considerarmos incentivos e estratégias federais, o financiamento não é ruim. No fim das contas, consegue representar 50% do custo. Mas, como é discricionário, alguns são financiados adequadamente; outros, não. É esse Frankenstein, criado com uma série de remendos, que temos de mudar.
O senhor concorda que falta continuidade nas políticas públicas de saúde?
Ricardo Barros – Sem dúvida. A saúde é muito ideologizada. Todo mundo concorda que está ruim. Mas, quando se pergunta “vamos mudar?”, a resposta de todas as partes envolvidas é não. Para resolver isso, precisa haver pactuação. Hoje, tudo é pactuado em uma comissão tripartite. Meu sucessor, se quiser mudar alguma coisa, terá de combinar com a comissão, na qual ele é minoria, porque tem representantes de União, estados e municípios. Ele terá de convencer os demais membros. As pactuações dão mais estabilidade às políticas públicas de saúde.
Qual é sua opinião sobre o programa Mais Médicos?
Ricardo Barros – O programa Mais Médicos segue um tripé. Primeiro: médicos bolsistas para atender em lugares distantes e periferias, onde não há condições de trabalho nem segurança. Conta com 18 000 médicos ao custo de 3 bilhões de reais por ano. Outro pé são novos cursos de medicina. Terceiro: ampliação da medicina da família e da atenção básica, chaves para resolver 80% dos problemas. Isso está em andamento. Também queremos reduzir o número de médicos cubanos de 11.400 para 7.000 em três anos. O programa é um acerto.
fonte:exame
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