Israel critica a ONU por ter sido colocado na “lista da vergonha”

A ONU acrescentou Israel à lista de Estados e grupos armados que cometeram violações contra crianças e adolescentes durante conflitos, anunciou o embaixador israelense na organização, Gilad Erdan, após ser notificado pelo chefe de Gabinete do secretário-geral, António Guterres. O relatório anual “Crianças e Conflitos Armados” deve ser discutido na próxima sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU, e uma fonte diplomática informou à AFP que o grupo terrorista Hamas e a Jihad Islâmica (outro grupo armado palestino) também serão incluídos em um anexo do documento conhecido como “lista da vergonha”.

Em um comunicado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a ONU “se incluiu na lista negra da História ao se unir aos que apoiam os assassinos do Hamas”, defendendo o Exército israelense como o “mais moral do mundo”.

Em um vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter), Erdan disse estar “chocado e enojado”:

“O único que está na lista da vergonha é o secretário-geral, que incentiva e encoraja o terrorismo e é motivado pelo ódio contra Israel”, disse, acrescentando que Guterres deveria ter “vergonha de si mesmo”.

Esta é a primeira vez que Israel e o Hamas foram incluído na lista, juntando-se ao Afeganistão, Al-Qaeda, Boko Haram, Estado Islâmico, Iêmen, Iraque, Mianmar, Rússia, Somália e Síria. Israel, porém, seria o primeiro país democrático a constar na relação. No ano passado, Rússia entrou na listagem pela primeira vez por causa do tratamento conferido às crianças em sua guerra na Ucrânia.

A inclusão de Israel ocorre após oito meses de guerra em Gaza, em que se estima que milhares de menores estão entre os mais de 36,5 mil mortos, segundo o Ministério de Saúde do enclave, controlado pelo Hamas desde 2007. Também ocorre um dia após um ataque israelense contra um complexo escolar na região central de Gaza deixar 40 mortos, incluindo crianças, segundo autoridades palestinas. O Exército israelense, porém, diz não ter conhecimento de baixas civis, afirmando que o ataque matou 17 integrantes do Hamas e da Jihad Islâmica — incluindo alguns que participaram da invasão contra o sul israelense em 7 de outubro de 2023, que deu início ao conflito.

Segundo funcionários de direitos humanos, o Hamas foi incluído no relatório por ter matado e sequestrado crianças nos ataques do ano passado, quando deixou quase 1,2 mil mortos e fez 252 reféns. Em uma trégua temporária em novembro, mais de 100 foram trocados por prisioneiros palestinos, permanecendo em cativeiro, segundo Israel, 79 reféns vivos e 41 mortos.

Violações

O relatório se refere a cerca de 20 zonas de conflito em todo o mundo onde ocorrem violações dos direitos das crianças, incluindo assassinato, mutilação, abuso sexual, sequestro ou recrutamento de menores, bloqueio de acesso à ajuda e ataque a escolas e hospitais.

As implicações práticas da inserção de Israel no relatório incluem o estabelecimento de um “mecanismo de monitoração e notificação” pelo Gabinete da representante especial de Guterres para Crianças e Conflitos Armados, Virginia Gamba, a diplomata argentina que compilou o relatório. O órgão será responsável por manter um diálogo com autoridades israelenses, estabelecendo parâmetros a ser cumpridos e fornecendo relatórios de progresso ao Conselho de Segurança.

Relatórios anteriores incluíram capítulos sobre o conflito palestino-israelense, que acusaram Israel de graves violações contra crianças. Entretanto, o Estado judeu nunca constou de um anexo no fim do relatório de “partes que não adotaram medidas durante o período referido para aprimorar a proteção das crianças”. Esse anexo ficou conhecido como lista negra ou “lista da vergonha”.

O relatório do ano passado observou “uma redução significativa no número de crianças mortas pelas forças israelenses, inclusive em ataques aéreos” entre 2021 e 2022. Mas a guerra entre Israel e o Hamas mudou a situação. Além do conflito em Gaza, o documento também destaca repetidos ataques de colonos na Cisjordânia ocupada contra palestinos, incluindo crianças, que seguem sem punição e atraíram sanções dos EUA e de outros países.

Por Redação

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