Indígenas do Rio Negro comemoram 32 anos de federação no interior do AM

Com debate sobre as conquistas do movimento nas últimas décadas, lideranças se reuniram na sede da Foirn, em São Gabriel da Cachoeira, para refletir sobre as ameaças aos direitos e aos territórios indígenas

Gersem Baniwa alerta sobre atual cenário de ameaças à cultura e aos territórios indígenas no Brasil. Foto: Divulgação
Uma das maiores organizações indígenas da América Latina, a Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) comemora, nesta terça-feira (30), 32 anos de existência. A data foi celebrada na Maloca Casa do Saber, na sede da federação, em São Gabriel da Cachoeira, com a presença de lideranças tradicionais, fundadores, artistas, assim como sua diretoria executiva e representantes de instituições parceiras e apoiadores, tais como o Instituto Socioambiental (ISA), o Ifam (Instituto Federal do Amazonas) e o Exército brasileiro.
Para as lideranças presentes, desde a redemocratização do Brasil, os povos indígenas não sofrem tantas ameaças aos seus territórios e direitos conquistados na Constituição de 1988, quanto no governo atual, que vem pressionando a abertura das terras indígenas para a exploração mineral, o agronegócio e grandes obras de infraestrutura.
“O governo federal está incentivando os índios a arrendarem suas terras e isso é um perigo. E estão fazendo isso por meio da cooptação de algumas lideranças”, alerta Gersem dos Santos Luciano, do povo Baniwa, um dos fundadores da Foirn.
Para Gersem, outra questão difícil está relacionada à cultura indígena, que vem sendo ameaçada pelo governo Bolsonaro, quando o mesmo fala em “integração” do índio à sociedade. “No fundo o que eles querem é que o índio deixe de ser índio para que perca todos os seus direitos e, sobretudo, o seu território”, enfatiza. Recentemente, o próprio presidente Bolsonaro declarou que as terras indígenas são como zoológicos onde os índios estão presos e não podem se desenvolver. “Na verdade, o que esse governo quer é que os índios deixem suas terras para o agronegócio, para a exploração mineral e paras grandes obras”, conclui a liderança.
Rio Negro, território indígena
A Foirn, que foi fundada um ano antes da Constituição de 1988, é uma organização que defende os direitos de 23 povos indígenas do Rio Negro, englobando 750 comunidades indígenas nos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Como representante política desses povos, a Foirn através de acordo de cooperação técnica com a Funai e o ISA, está concluindo os planos de gestão territorial e ambiental das 7 terras indígenas demarcadas do Médio e Alto Rio Negro.
“Somos herdeiros de quem lutou para que nós indígenas do Rio Negro tivéssemos o nosso território e a nossa independência. Para nós 23 povos indígenas, o Rio Negro é o nosso território e aqui nós temos governança. Por isso, temos os nossos planos de gestão territorial e ambiental muito bem elaborados. Aqui nós não precisamos da Funai para ser nosso tutor e, sim, queremos a Funai como parceira em nossos projetos”, enfatiza Maximiliano Menezes, do povo Tukano.
Fonte https://www.acritica.com