Fome em Uganda atinge mais de 40% da população

Mais de meio milhão de pessoas sofrem fome na província de Karamoja, o que representa 40% da população desta região em uma área remota de Uganda, na fronteira com Sudão do Sul e Quênia. Catástrofes naturais, pragas de gafanhotos e de lagartas de milho, assim como ações de ladrões de gado, são as principais causas.

No hospital de Kaabong, as mães observam de maneira ansiosa os filhos debilitados. As crianças são as primeiras afetadas pela fome que avança na pobre e remota região de Karamoja. Maria Logiel está com os dois filhos. A pele de um está marcada por lesões provocadas pela desnutrição extrema. O outro, preso em suas costas, olha para o vazio.

“Eu trouxe eles porque estavam doentes e iam morrer”, explica a mulher. “Deixei outros dois em casa e temo que ao retornar eles não estejam mais vivos”.

“Nos últimos três meses perdemos mais de 25 crianças de menos de cinco anos devido à desnutrição”, afirma o médico Sharif Nalibe, secretário de Saúde no distrito de Kaabong, um dos mais afetados de Karamoja.

“E são aqueles que atendemos, trazidos no último minuto para o hospital. Muitos morrem nas comunidades e não são notificados”, explica.

A região de Karamoja enfrenta uma crise alimentar longe dos holofotes da imprensa, concentrada na guerra na Ucrânia ou na fome em larga escala que afeta a região do Chifre da África.

Nem mesmo em Ugada a situação desta região remota, que fica a mais de 500 quilômetros da capital Kempala e é considerada instável, chama a atenção.

Um total de 91.600 crianças e 9.500 mulheres grávidas ou em período de amamentação sofrem desnutrição aguda e precisam de tratamento, de acordo com a avaliação mais recente das agências humanitárias.

“Em termos de desnutrição aguda, este ano observamos o pior cenário em 10 anos”, afirma Alex Mokori, especialista em nutrição do Unicef, que organiza com as autoridades locais de Karamoja operações para detectar casos de desnutrição.

Maria Logiel tentou alimentar os filhos com plantas selvagens que ela coletou, mas isto os deixou doentes muitas vezes. Desesperada, em alguns momentos ela comprou sobras de “malwa”, um tipo de cerveja local produzida com milho.

Porém, mesmo este resíduo farinhento e levemente alcoólico é muito caro para ela. “Muitas vezes não tínhamos dinheiro suficiente e as crianças dormiam com fome”, explica.

As comunidades da região, que vivem da pecuária e da agricultura, subsistem há décadas em uma vida precária, com frequência afetadas por ataques contra o gado de diferentes grupos nômades que passam pela fronteira porosa de Uganda, Sudão do Sul e Quênia.

O governo não consegue conter a violência.

A mudança climática enfraqueceu ainda mais sua existência. A região vive atualmente um episódio de seca depois de ter sido impactada no ano passado por inundações e deslizamentos de terra.

“Com a seca prolongada, os ladrões de gado e as comunidades sem recursos de subsistência caminham para o pior”, prevê Sharif Nalibe.

Para alguns, como Nangole Lopwon, o pior já chegou. Esta mãe de família saiu para vender lenha em um vilarejo vizinho, deixando os gêmeos famintos com o irmão mais velho. Ao retornar, um deles estava morto.

“O que eu poderia fazer? Não estava doente, a fome que o matou”, lamenta.

Mas a situação não deixa de piorar desde então e o gêmeo sobrevivente está em condição crítica. “Ele também está à beira da morte”, afirma a mãe.

Fonte: Extra

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