Floresta Amazônica emite a mesma quantia de dióxido de carbono que absorve

Derrubada está fazendo com que a maior floresta do mundo, que antes “sequestrava” muito dióxido de carbono da atmosfera, amenizando o efeito estufa, agora absorva a mesma quantidade de CO2 que emite

O desmatamento mudou a lógica do fluxo de carbono na Amazônia. Antes, a floresta fazia um “serviço ambiental” importante na redução do aquecimento global, retendo meia tonelada de carbono por hectare, ao ano. Agora, a diferença entre o carbono que é emitido pelo desmate e o que a mata retém é zero. Ou seja, a floresta emite a mesma quantidade de CO2 que absorve. O CO2 (dióxido de carbono) é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que leva ao aumento da temperatura terrestre.
A constatação foi apresentada, ontem, pelo pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo, que é gerente do Comitê Científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), e Luiz Martinelli, durante o workshop: “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, ministrado no Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), no bairro Aleixo, na Zona Sul de Manaus.
“O medo da comunidade científica é que a floresta amazônica comece a perder carbono para a atmosfera”, apontou Artaxo, durante sua apresentação. “Se ela perder 2% ou 3% do carbono, isso vai aumentar muito o efeito estufa”, concluiu ele.
“Hoje, a floresta é neutra do ponto de vista de carbono. Se diminuirmos as emissões de queimadas, nós temos a possibilidade de voltar a ter a floresta absorvendo mais carbono do que emite, isso é o que nós temos que lutar hoje”, ressaltou.
A Amazônia, afirmou Paulo Artaxo, é chave para as questões climáticas globais. “A Amazônia é um ecossistema absolutamente crítico para o clima global. Ela controla o ciclo hidrológico, armazena uma quantidade enorme de carbono que se uma fração pequena desse carbono for para a atmosfera pode agravar e muito a questão das mudanças climáticas globais. Por outro lado, se nós conseguimos aumentar o estoque de florestas, nós podemos mitigar estas emissões e dessa maneira ganhar tempo até que tecnologias sejam desenvolvidas para que possamos enfrentar a questão das mudanças climáticas globais”, explicou o pesquisador.
Ao falar sobre as previsões de mudanças climáticas, o pesquisador disse que a parte central da região, que inclui Manaus, pode ter a temperatura média aumentada em até cinco graus Celsius. “Pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, as emissões de carbono não vão diminuir. Você pode imaginar um dia de verão aqui, com cinco graus acima da temperatura atual, isso vai ter um impacto socioeconômico enorme. Esse momento está próximo, 2050”, disse Artaxo.
Diante do agravamento da problemática do clima global, quais seriam as possíveis soluções? De acordo com pesquisador, o momento não permite otimismo. “Estamos observando que os países não vão cumprir os seus compromissos com o ‘Acordo de Paris’, inclusive o Brasil”, ressaltou.
“Se há saída? Tem. Não é o fim do mundo, não é a destruição do planeta, mas nós vamos ter nas próximas décadas mudanças profundas no clima que vão afetar a economia mundial. O Brasil tem que se preparar com isso, através da criação de políticas públicas para a melhoria da sustentabilidade como um todo, implantando mais energia solar e eólica do qual o nosso País tem um grande potencial”, observou ele.
Desenvolvimento regional sustentável
Em função desse papel fundamental na questão climática, os olhares estão cada vez mais voltados à maior floresta tropical do mundo e a maior em biodiversidade, a Amazônia. “O Inpa tem desenvolvido pesquisas em vários níveis, um deles é compreender a interação da floresta com a atmosfera nessa questão do clima, o regime de chuvas, como a floresta se comporta com as mudanças globais. Nós também temos pessoas atuando na questão de políticas públicas, ou seja, os impactos das obras de infraestrutura e como isso afeta no desmatamento, ou seja, o que acaba gerando problemas no desenvolvimento da Amazônia”, explicou o pesquisador Paulo Maurício Alencastro, coordenador de pesquisas do Inpa.
O instituto também trabalha em possíveis soluções. “Temos pesquisas para o desenvolvimento sustentável na agricultura para desenvolver emprego e renda para a melhoria da qualidade de vidas de quem mora nas comunidades, isso diminui a pressão sobre o desmatamento”, comentou Alencastro.
Oportunidade de discutir a Amazônia
O workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, realizado ontem (16), em Manaus, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Inpa e Wilson Center, teve como objetivo divulgar os resultados de pesquisas sobre o bioma Amazônico, discutir de modo interdisciplinar os fatores científicos, sociais e econômicos do desenvolvimento da região.
Ao todo do dia, participaram 10 palestrantes abordando diversos temas como estratégias de redução do desmatamento da Amazônia, biodiversidade e sustentabilidade, dentre outras questões em foco. “É um evento que tenta olhar para Amazônia de olhos abertos para várias direções possíveis que vão desde questões científicas, social, a questão das organizações não governamentais e a questão do setor empresarial. Para que todos possam trabalhar juntos para encontrar soluções que sejam sustentáveis de longo prazo para o desenvolvimento da Amazônia. Estamos todos juntos nessa direção cada um fazendo sua tarefa”, disse Luiz Martinelli.
Empresas e 3º setor
No evento também foram debatidas iniciativas empresariais e de organizações não-governamentais de pesquisas e seus papeis no desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Fonte https://www.acritica.com

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