Festas, descrença em números e não uso de máscaras; veja o que impulsiona o medo de uma nova onda do coronavírus no AM
“De olho no registro de novos casos, Prefeitura de Manaus e Governo do Estado voltaram a restringir movimentação”
Meses depois do pico da pandemia do coronavírus no Amazonas, o medo de uma nova onda de casos provoca insônia no poder público. Nas ruas e nos registros policiais, não é difícil perceber o que levou à decisão de restringir, novamente, a rotina da população.
Aglomerações em balneários e festas clandestinas, falta de distanciamento e não uso de máscaras são parte de um roteiro que chega a ser normal para muitas pessoas e, ao mesmo tempo, assombra quem ainda teme o vírus que já matou mais de quatro mil no estado.
O G1 foi às ruas e testemunhou o desrespeito às medidas de segurança, principal motivo que obrigou Estado e Prefeitura a frearem outra vez a movimentação de pessoas no dia a dia. Segundo o governo, as atitudes de frequentadores de balneários, bares e festas clandestinas contribuíram para a volta de medidas restritivas em curto espaço de tempo.
A flexibilização de atividades envolvendo comércio, escolas e serviços teve início em junho. Aos poucos, o cronograma de retomada autorizou grande parte do que estava parado desde março.
Apesar das cicatrizes sombrias que o auge da pandemia deixou no Amazonas entre os meses de abril e maio, muita gente na capital ainda ignora o uso obrigatório de máscara para proteção. A Lei estabelece multa de R$ 108,95 a quem desrespeitar a determinação.
A aglomeração também preocupa autoridades. Nas paradas e dentro dos ônibus do transporte público, passageiros disputam espaço aglomerados.
Na Zona Leste de Manaus, nesta sexta-feira (25), o G1 flagrou ônibus transportando passageiros com uma capacidade acima do recomendado. Em diversos veículos, pessoas estavam em pé desrespeitando o distanciamento mínimo recomendado pelas autoridades de saúde. Além disso, alguns passageiros faziam o uso incorreto de máscaras.
No Terminal de Integração 4 (T4), na Zona Norte de Manaus, passageiros esperavam ônibus sem qualquer distanciamento mínimo. Algumas estavam sem máscaras. No local, várias barracas que vendem alimentos ou água também funcionavam sem as recomendações dos órgãos fiscalizadores.
Apesar do decreto do uso de máscaras em vigor desde maio, algumas pessoas como o autônomo Edvaldino Ferreira, por exemplo, acreditam que a preocupação com o novo coronavírus é um exagero. Sem comprovar dados, ele afirma que há excesso no pedido de cuidados.
“Esses dados de aumento no número de casos estão errados e todo mundo sabe disso. Os casos estão aumentando apenas no interior, não na capital. As pessoas generalizam e acabam assustando a população. Pode até existir vírus, mas esse alarme todo, é algo muito exagerado”, comentou.
Mas quem já passou pela doença ou perdeu amigo ou um familiar para o vírus diz que apenas a conscientização pode salvar vidas. É o caso da assistente social Marcilane Gama.
“Eu e minha família pegamos coronavírus e sempre fomos cuidadosos ao extremo. Muitas pessoas estão morrendo pela falta da consciência de alguns. Só vão entender quando a doença atingir alguém muito querido, aí sim vão levar a sério”, disse.
Na capital, cenas de desrespeito ao distanciamento também são comuns em balneários e flutuantes – estabelecimentos que funcionam às margens do rio. Em bares de diversas zonas, o cenário foi semelhante nos últimos meses. Em um deles, a polícia chegou a flagrar cerca de 4 mil pessoas em uma festa.
Um baile funk com aglomeração de pessoas foi encerrado no dia 30 de agosto depois que a Polícia Militar recebeu denúncias de irregularidades no local. De acordo com a corporação, ninguém foi preso. No entanto, no local havia grande quantidade de adolescentes e bebida alcoólica, segundo a polícia.
Números e receio de nova onda
O governo diz que o relaxamento nas medidas de proteção, especialmente as aglomerações, levaram a um aumento no número de pessoas infectadas e nas internações na rede privada de saúde nas últimas semanas.
O Amazonas já alcançou a marca de mais de 4 mil mortes causadas pela Covid-19, na sexta-feira (26). O número de casos confirmados da doença chegou a 135.205. O total de recuperados é de 114.793.
Entre os casos confirmados, há 334 pacientes internados, sendo 219 em leitos clínicos (86 na rede privada e 133 na rede pública), 111 em UTI (52 na rede privada e 59 na rede pública) e quatro em sala vermelha, estrutura voltada à assistência temporária para estabilização de pacientes críticos para posterior encaminhamento a outros pontos da rede de atenção à saúde.
Há ainda outros 44 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Desses, 22 estão em leitos clínicos (14 na rede privada e 8 na rede pública), 20 estão em UTI (14 na rede privada e seis na rede pública) e dois em sala vermelha.
Em média, o estado confirmou 7 novas mortes por dia na última semana. Em 24 de setembro, a média era de 9 novas mortes confirmadas por dia.
A tendência de alta nos casos levaram a Prefeitura de Manaus e Governo do Estado a restringirem a movimentação e o fluxo de pessoas na capital amazonense. É a segunda vez que a cidade volta a ter bares, casas noturnas e estabelecimentos fechados.
As novas restrições proíbem o funcionamento de:
- bares
- balneários
- casas de show
- flutuantes (estabelecimentos que funcionam às margens do rio)
- Permanência de pessoas nas praias de Manaus.
As novas restrições, anunciadas na quinta-feira (24), valem por 30 dias a partir desta sexta (25).
De acordo com o decreto, restaurantes e lojas de conveniência podem continuar a operar até as 22h. Em caso de descumprimento das determinações, o decreto estabelece advertência, multa diária de até R$ 50 mil – por cada reincidência – para pessoas jurídicas, embargo ou interdição de estabelecimentos.
Na semana passada, o Complexo Turístico da Ponta Negra também voltou a ser interditado por conta do aumento em números da Covid-19 na capital. A praia havia sido fechada no mês de março e reabriu no dia 11 de julho.
Pandemia no Amazonas
O Amazonas chegou a viver, nos meses de maio e abril, um dos piores cenários da pandemia. O sistema de saúde e o sistema funerário entraram em colapso. O Estado operou praticamente com a capacidade total dos leitos e não havia equipamentos essenciais como respiradores.
Os dois hospitais abertos emergencialmente em Manaus para atender apenas casos de Covid-19 já foram fechados. No dia 23 de junho, a Prefeitura anunciou o fechamento do hospital de campanha e, no dia 16 de julho, o governo fechou o Hospital de Combate à Covid-19, Hospital Nilton Lins.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) informou que o Hospital Delphina Aziz, que seria aberto para outras enfermidades, permanecerá sendo a unidade referência para o tratamento de Covid-19.
Por Rebeca Beatriz
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