Energia em crise na Europa: somando-se à disparada dos preços do gás com a redução da oferta russa, boa parte dos reatores nucleares na França está parada
De acordo com relatório da última sexta-feira (12) de Cedric Gemehl, da empresa de análise financeira Gavekal Research, um dos grandes nós atuais é o fato de que, nessa segunda semana de agosto, 25 de 56 reatores nucleares da França estavam parados para manutenção, e cinco operando com restrições.
Mais da metade da capacidade nuclear da Europa está na França e essa fonte de energia, segundo Gemehl, foi a maior geradora para o continente europeu em 2021, com 23% da produção (mesmo que, em termos de capacidade, a energia nuclear responda por 11% do total da região).
O economista aponta que a estatal francesa EDF tem planos de religar reatores até dezembro que trariam de volta a operacionalidade da capacidade nuclear europeia para 92% até o fim do ano.
O problema, ele acrescenta, é que “a EDF repetidamente adiou as datas em que os reatores voltarão a operar”.
Evidentemente, essa questão nuclear é a gota d’água que pode fazer transbordar o balde no que é uma crise provocada pela disparada dos preços de petróleo e gás na saída na pandemia e como consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Gemehl observa que os preços no atacado do gás estão sendo negociados pelo equivalente a um barril de petróleo de US$ 342. O preço de energia elétrica básica na França e Alemanha subiu mais de 1000% nos últimos dois anos e está no equivalente a US$ 700 o barril.
O contrato futuro de energia de pico da França para dezembro é negociado num preço equivalente a um barril de petróleo a US$ 3.589, de acordo com o economista.
Na sua análise, a lacuna da energia nuclear tende a ser preenchida por usinas termoelétricas movidas a gás, mas com o cerceamento da produção russa, os preços do produto na Europa subiram 354% em um ano e 2800% em dois anos.
Há planos, incluindo a Alemanha, de reabrir termoelétricas a carvão, mas a matéria-prima também disparou, tem alta emissão de carbono (o que gera custos na Europa) e problemas de transporte.
Já recente publicação de Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), coloca a Europa como “epicentro” das turbulências no mercado de energia global.
Birol aponta diretamente a responsabilidade russa pela crise ao reduzir a menos de um terço a oferta de gás natural para a União Europeia (UE) desde o início da Guerra na Ucrânia em fevereiro.
O diretor-executivo da IEA considera que a UE tem que preencher 90% da sua capacidade de estocagem de gás antes do inverno, até outubro, para enfrentar um eventual corte total do fornecimento russo. Ainda assim, haveria possibilidade de problemas de abastecimento no final do inverno.
Para chegar aos 92%, a região tem que reduzir o consumo de gás em 12 bilhões de metros cúbicos nos próximos três meses, de acordo com os cálculos da IEA. É o equivalente em volume à capacidade de 130 navios tanques de transporte de gás liquefeito de petróleo.
Birol sugere medidas como leilões com compensações para consumidores industriais de gás que reduzam sua demanda; aumento temporário da geração nuclear e com carvão e petróleo; aumentar a coordenação de operadores de energia e gás entre diferentes países da Europa; estabelecer regras e controles para reduzir o consumo de energia em residências e prédios públicos; e harmonizar planos de emergência para falta de energia na Europa.
Por Redação