Derrotados nas urnas, ex-deputados viram consultores e faturam até 3 milhões de reais ao ano

Deputado federal por quatro mandatos, Vanderlei Macris voltou a Brasília na semana passada para percorrer gabinetes de ex-colegas de Congresso. Mais do que rever velhos amigos, as visitas tinham como objetivo tratar de projetos em discussão no Legislativo que afetam empresas de transporte. Após 40 anos na vida pública, o ex-congressista não conseguiu se reeleger no ano passado, mas não ficou sem emprego: foi contratado como consultor da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

A exemplo de Macris, políticos com vasto currículo na vida pública aproveitam o conhecimento adquirido com a ajuda de votos e, quando são derrotados nas urnas, passam a defender interesses do setor privado no Congresso. Em geral, esses ex-congressistas oferecem o serviço de consultoria ou de relações governamentais. Os termos muitas vezes são usado como eufemismo para a prática do lobby, que costuma carregar conotação negativa pela falta de regulamentação no Brasil, embora seja comum em outros países. O mercado é vasto. Profissionais da área estimam que uma consultoria com um nome de peso da política pode chegar a faturar até R$ 3 milhões por ano.

“Nós temos mais abertura e facilidade para conversar com os parlamentares, fazer pedido de audiência pública, além de termos a experiência legislativa”, gaba-se o ex-deputado Marcelo Ramos, que, após não se reeleger, passou a prestar serviço à Petrobras.

Um dos mais bem-sucedidos na função, o ex-ministro Romero Jucá é um dos que rejeitam o rótulo de “lobista”. Após 24 anos no Senado, onde foi líder de todos os governos desde a redemocratização, exceto o de José Sarney, ele abriu a Blue Solution Government Inteligence. “Acumulei anos de experiência como economista e senador da República. Hoje, coloco esse know-how à disposição de empresas e organizações que buscam informações mais seguras para direcionar seus investimentos no Brasil”, diz ele no seu perfil no LinkedIn.

“É um trabalho muito sério e organizado. Entregamos material todos os dias (para os clientes), e vou ao Congresso eventualmente. Me reúno com governo e parlamentares quando é preciso”, afirmou Jucá. “Lobista não faz análise, cenários, entre outros. O que fazemos é outra coisa”, acrescentou.

Circulação livre

Mesmo sem mandato, os políticos têm uma vantagem ante aos demais profissionais que atuam na área. Tanto o regimento da Câmara quanto o do Senado permitem que ex-parlamentares circulem livremente pelos corredores do Congresso e tenham acesso aos plenários. Além disso, após anos ali dentro, conhecem bem os trâmites do Legislativo e os atalhos usados para aprovar projetos de seus interesses.

Iniciante neste tipo de atividade, o ex-senador e ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) avalia que a procura por políticos experientes se dá pelo conhecimento que têm sobre o funcionamento da máquina pública.

“Tem muita demanda e muito trabalho. Há uma parte de clientes que busca avaliação de cenários políticos. É muito da experiência nossa, pelos cargos que exercemos, sobre os desdobramentos de políticas públicas”, afirmou Bezerra, que em fevereiro abriu a Vale Soluções.

Entre seus clientes estão a Eletrobras, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Confederação Nacional de Seguros. Com as discussões da reforma tributária, tem cumprido agenda de parlamentar e ido semanalmente a Brasília. Nestes dias, costuma se reunir com deputados e senadores, como o relator da reforma na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e o no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), com quem até dezembro dividia discursos e projetos.

Ex-presidente da Câmara

Outro ex-colega de Jucá e Bezerra Coelho que abriu uma consultoria foi Cássio Cunha Lima, ex-governador da Paraíba e ex-vice-presidente do Senado. Ele montou a Advice Brasil após perder a eleição em 2018. A interlocutores, diz não ter pretensão de voltar à política e estar satisfeito com a nova atividade.

Em alguns casos, ex-parlamentares foram contratados diretamente por entidades que representam setores para atuar dentro do Congresso. É o caso, por exemplo, de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, Casa que comandou entre 2016 a 2021. Hoje, ele é presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).

“Meu papel é dialogar com a sociedade e com os órgãos públicos, principalmente, em Brasília. Congresso, governo e Judiciário”, resume.

Por Redação

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