Custo da reconstrução da Ucrânia pode chegar a 1 trilhão de dólares após guerra com a Rússia

Mesmo sem qualquer perspectiva de paz entre Rússia e Ucrânia, especialistas e autoridades de todo o mundo começam a traçar o tortuoso caminho reconstruir o país. Segundo estimativas do Banco Mundial, feitas em março, o preço estimado para recuperar a Ucrânia era de US$ 411 bilhões, ou R$ 2,02 trilhões. Mas o valor poderia ser ainda maior: para o Banco Europeu de Investimentos, a cifra pode chegar a US$ 1 trilhão (R$ 4,92 trilhões).

Embora os números sejam astronômicos, ainda mais considerando os bilhões de dólares já investidos em armamentos e ajuda humanitária a Kiev, a participação ocidental neste processo poderia cimentar os laços com a Ucrânia a longo prazo, uma estratégia confirmada por exemplos históricos.

Cabe lembrar que qualquer discussão sobre reconstruir o país passa necessariamente por um cessar-fogo, algo que é tão hipotético quanto os próprios planos para reerguer a nação.

A invasão russa entrou em seu segundo ano com os já conhecidos ataques contra a infraestrutura civil — hospitais, escolas, fábricas, prédios residenciais foram e continuam sendo alvos recorrentes. Construções como pontes foram deliberadamente destruídas pelos próprios ucranianos para deter o avanço das forças invasoras, e instalações estratégicas, como portos e complexos industriais, como o de Mariupol, estão em poder dos russos.

Há ainda os incalculáveis danos provocados por eventos catastróficos, como a demolição da barragem de Kakhovka, em Kherson, que inutilizou áreas urbanas e rurais. A paralisação da central nuclear de Zaporíjia, antes responsável por suprir 20% da energia consumida na Ucrânia, é mais um obstáculo para a retomada.

“A recuperação e a reconstrução levarão vários anos, mas a boa notícia é que a resiliência do país e a determinação, assim como o apoio de parceiros durante a invasão está ajudando a conter danos e reduzir as demandas”, afirmou em comunicado a vice-presidente para a Europa e Ásia Central do Banco Mundial, Anna Bjerde.

Feiras de reconstrução

A grande esperança das lideranças locais é que uma velha máxima de guerras anteriores se repita: assim como existe a fome da indústria armamentista de vender seus produtos, há um bilionário mercado de empresas especializadas em reconstruir países depois que as armas silenciam.

Em fevereiro, mais de 300 empresas de 22 países participaram de uma feira na Polônia, onde foram apresentadas oportunidades de negócios. Semanas antes, em dezembro, o governo francês organizou uma conferência com mais de 700 empresas interessadas em oferecer seus serviços. E com a chegada do verão no Hemisfério Norte, novos eventos estão pipocando por todo o continente europeu.

Quem pagará?

Ainda não está claro quem ficará com a conta. Kiev exige que os russos paguem ao menos parte da soma potencialmente trilionária, e as nações ocidentais ainda não definiram o tamanho de sua participação. Mas se os governos se pautarem pelo passado, podem ter diante de si uma oportunidade perfeita.

“Talvez o exemplo mais famoso de movimentação ou de articulação de outros países para ajudar na reconstrução de um país certamente seja o Plano Marshall, que foi o plano dos Estados Unidos para auxiliar na reconstrução, principalmente da Europa, após a Segunda Guerra Mundial”, afirmou Luciana Mello, especialista em História das Relações Internacionais e professora do IBMR (Instituto Brasileiro de Reeducação Motora), referindo-se ao plano de assistência de Washington, iniciado em 1948.

Modelos asiáticos

O investimento na Europa, repetido em modelos próprios no Japão e posteriormente na Coreia do Sul, garantiu aos EUA um apoio irrestrito de países que têm grande peso no cenário global, e que ajudou Washington no contexto da Guerra Fria e depois de seu fim.

Um eventual e robusto apoio ocidental a Kiev poderia cimentar uma relação já fortalecida pelo envio de bilhões de dólares em ajuda econômica, militar e humanitária nos últimos dois anos. O cálculo, porém, é um pouco mais complexo, e envolve questões internas de governos e do setor empresarial, que também incluem o outro lado da linha de frente: a Rússia.

Por Redação

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