Cristina Kirchner assume a própria defesa em processo de corrupção

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, assumiu sua própria defesa durante as alegações finais de um julgamento de corrupção que denunciou como atormentado por “mentiras, calúnias e difamações”, e no qual o Ministério Público pede 12 anos de prisão para ela.

“Estamos diante de um caso claro de prevaricação. O promotor [Diego] Luciani e o promotor [Sergio] Mola mentiram na declaração da acusação. É um julgamento cheio de mentiras, calúnias e difamações”, disse Kirchner na intervenção realizada de forma remota, diretamente de seu escritório na presidência do Senado.

A vice-presidente protestou após o tribunal rejeitar, em agosto, a concessão de uma prorrogação de sua declaração indagatória. A solicitação foi feita por Kirchner após as alegações do Ministério Público, às quais, segundo ela, novos elementos foram incorporados.

Por isso, Kirchner enfatizou que sua intervenção “não é uma concessão graciosa do tribunal”, mas sim uma prerrogativa que lhe foi dada por ser advogada de profissão.

“Se não tivesse a sorte de ser advogada, estaria em estado de indefesa diante da extensão do argumento do promotor”, declarou.

Entenda o caso

Aos 69 anos, presidente entre 2007 e 2015 e figura política de peso no peronismo, Kirchner é acusada de associação ilícita e de administração fraudulenta agravada. Por esse motivo, o Ministério Público também solicitou sua proibição política.

Devido a seus privilégios parlamentares, ela não pode ser detida nem ter seu mandato cassado, até que haja uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça.

O julgamento começou em 2019. Ela é acusada, junto com outras 12 pessoas, de ter direcionado obras públicas para as empresas de um homem chamado Lázaro Báez. Em troca, ele teria repassado dinheiro para ela, de acordo com a acusação. Para os promotores, ela é culpada de associação ilícita e de administração fraudulenta agravada.

Essas licitações de obras públicas fraudulentas teria acontecido na província de Santa Cruz, o reduto político dos Kirchner. O veredicto deve ser conhecido até o final deste ano.

Devido aos seus privilégios parlamentares, ela não pode ser detida, nem ter seu mandato cassado, até que haja uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça.

Atentado

Cristina disse que a acusação contra ela criou o clima para o ataque que sofreu no início de setembro. “Até 1º de setembro achava que isso (o julgamento por suposta corrupção) era para estigmatizar a mim e ao peronismo, para me proibir. Mas a partir de 1º de setembro percebi que pode haver outra coisa”, disse Kirchner, ao mencionar a tentativa de assassinato na qual teve uma arma apontada para sua cabeça que, apesar de ter sido acionada duas vezes, não disparou.

Quatro pessoas foram presas até agora pelo incidente. Mas a vice-presidente, que se referiu ao grupo como a “gangue de autores materiais”, afirmou “que ninguém pode pensar que essa quadrilha idealizou e planejou esse ataque”.

Ela questionou os promotores, a oposição política e a imprensa. Segundo ela, os promotores têm uma “licença social” fazer qualquer coisa.

“Isso é criar um clima”, lamentou. “(Eu) ne sinto muito indefesa, muito impotente”, disse ela em sua intervenção no tribunal que ouviu as alegações finais da defesa, a última etapa antes dos juízes emitirem um veredicto.

O agressor, um homem de 35 anos, conseguiu chegar à vice-presidente camuflado entre centenas de militantes que diariamente se manifestavam em solidariedade com ela nas portas de sua casa, em repúdio ao pedido de condenação da promotoria.

Por Redação

Mostrar Mais
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *