Cresce a tensão no resto do mundo com os rumos da eleição nos Estados Unidos

A tentativa de assassinato de Donald Trump, ocorrida logo depois dos tropeços do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante o recente debate eleitoral, está reforçando fora dos EUA a impressão de que a principal superpotência do mundo entrou em um período excepcional de turbulência e imprevisibilidade, o que deixa aliados em dúvida sobre sua confiabilidade e provoca regozijo nos rivais.

As imagens de um Trump ensanguentado sendo retirado às pressas do palco chamaram a atenção de todo o planeta, e para muitos mostram uns EUA cada vez mais em conflito consigo mesmo – um país que tem uma economia forte, mas um cenário político disfuncional e perigosamente dividido.

Em capitais de outros países ao redor do mundo, a tentativa de assassinato de Trump e as gafes repetidas de Biden mudaram os cálculos políticos e diplomáticos e levaram muitos governos a correr para se preparar para um segundo mandato de Donald Trump na Presidência como o cenário mais provável, por causa das preocupações cada vez maiores dos eleitores sobre a capacidade mental de Biden e da possibilidade de que Trump se beneficie de uma onda de simpatia depois do ataque.

A tentativa de assassinato, junto com o debate sobre a idade avançada do presidente Biden, também deu vida nova à narrativa de política externa favorita da Rússia: o suposto declínio acelerado dos EUA.

Autoridades russas falaram no domingo (14) sobre a “suposta condição suicida” da democracia americana, e avaliaram que o país está à beira de uma guerra civil. O Kremlin responsabilizou o governo Biden, que acusou de criar um clima que provocou o ataque.

Alguns comentaristas próximos do governo da China também fizeram eco a essas ideias, pois em Pequim é antiga a opinião de que os EUA estão em uma fase de declínio como única potência do mundo. “É o fim de feira da democracia ao estilo americano”, escreveu o jornalista Han Peng na popular rede social chinesa Weibo. Peng, da emissora estatal CGTN, trabalhou durante um período nos EUA.

Para outros países, no entanto, o atentado contra Trump serve como um lembrete, não da excepcionalidade ou do declínio dos EUA, mas de que se trata de um país como qualquer outro, que sofre espasmos ocasionais de violência política.

Projeções

Um possível retorno de Trump à Casa Branca significaria coisas diferentes para diferentes países. Alguns, como a Rússia e Israel, receberiam bem um segundo mandato de Trump, pelo menos inicialmente, enquanto muitos países europeus, especialmente a Ucrânia, temem que Trump esteja menos empenhado em controlar uma Rússia agressiva e venha e enfraquecer a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental), a aliança de defesa transatlântica.

As políticas comerciais de Trump, especialmente as tarifas prometidas sobre os produtos importados, preocupam a China, o México e a Europa.

Mas os acontecimentos recentes nos EUA aumentaram preocupações que vão além de qual candidato vencerá. Independentemente de qual partido estiver no poder, os EUA se tornaram muito mais protecionistas nos últimos anos e cautelosos em relação a complicações em outros países.

As divisões dentro da política americana também estão restringindo sua capacidade de apresentar resultados no cenário global, da segurança ao comércio, segundo alguns analistas políticos.

Por toda a Europa, os recentes eventos colocam em evidência o argumento de que o continente não pode mais se dar ao luxo de basear suas necessidades futuras de segurança no resultado das acirradas eleições americanas, cada vez mais voláteis.

O presidente da França, Emmanuel Macron, há muito defende a ideia de que a Europa precisa passar a ter uma “autonomia estratégica” em relação aos EUA e a outras potências militares, por meio de uma união militar para comprar armas e desenvolver a indústria de defesa do continente.

O México também está preocupado, uma vez que há uma revisão do acordo de livre comércio EUA-México-Canadá marcada para 2026. “Trump representa uma enorme ameaça, um risco enorme”, para a presidente eleita Claudia Scheinbaum, a primeira presidente mulher do México, disse Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México.

Funcionários mexicanos de alto escalão que negociaram com o governo Trump estão preocupados com políticas de segurança agressivas que possam ser direcionadas contra os poderosos cartéis de drogas mexicanos envolvidos no contrabando de fentanil e migrantes. Republicanos da Câmara dos Deputados já cogitaram a ideia de usar as Forças Armadas dos EUA contra grupos do crime organizado no México.

Por Redação

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