China usa espiões para vigiar e desacreditar dissidentes que vivem nos Estados Unidos
Em uma aparição pública sem precedentes na semana passada no complexo do MI5 — serviço de inteligência doméstica britânico — em Londres, os líderes dos serviços de segurança dos Estados Unidos e do Reino Unido alertaram sobre um vasto programa de espionagem e hackers desenvolvido pela China, que pode ser maior do que todos os programas gerenciados por outros países desenvolvidos combinados.
Acredita-se que esses esquemas sejam parte de um esforço maior, crescente e multifacetado para dar à China uma vantagem sobre seus rivais e silenciar ou suprimir ameaças ao governo do Partido Comunista Chinês.
A estratégia inclui todos os tipos de tática, do uso de hackers ao envio de espiões para as portas das casas das vítimas.
Ex-agentes de inteligência dos EUA dizem que os alvos mais prováveis são aqueles que possuem conexões com o que o governo chinês identifica como os “cinco venenos” que o ameaçam.
São eles: separatistas tibetanos e uigures (muçulmanos que habitam predominantemente a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China), o movimento espiritual Falung Gong, ativistas da independência em Taiwan e, como é o caso de Liu, membros do movimento pró-democracia na China.
De forma alarmante, espera-se que esses esforços aumentem em meio ao acirramento das relações sino-americanas. E nem mesmo cidadãos americanos devem ser poupados.
A espionagem de cidadãos chineses que vivem no exterior ocorre de várias formas: desde tentativas de hackear seus e-mails e dispositivos até a colocação de agentes humanos em seus círculos sociais ou organizações expatriadas.
Métodos eletrônicos são frequentemente usados para “facilitar” a espionagem humana. “Você pode espionar alguém online e ter uma ideia de seus contatos”, disse Christopher Johnson, ex-analista-chefe da China na CIA. “Então talvez você se aproxime dessas pessoas. Uma coisa leva a outra.”
Pequim ataca dissidentes porque acredita que eles fazem parte de uma “batalha de narrativa global” entre a China e o Ocidente, acrescentou Johnson. Segundo ele, aqueles que se manifestam publicamente contra o regime podem prejudicar os esforços da China de se retratar de forma positiva para o resto do mundo. Essa discussão ganhou “mais importância nos últimos dois anos”, disse ele.
Dois mil casos
Em um discurso no início deste ano, o diretor do FBI, John Wray, disse que as operações de espionagem chinesa nos Estados Unidos estão “mais descaradas” do que nunca.
Segundo Christopher Johnson, essa realidade é particularmente verdadeira porque o governo de Joe Biden usa a rivalidade entre os Estados Unidos e a China como parte de uma luta global entre democracias e autocracias.
De acordo com o FBI, a agência abre um novo caso de contrainteligência relacionado à China a cada 12 horas. Até fevereiro, mais de 2 mil casos foram iniciados.
Apesar disso, Johnson chamou os esforços dos EUA para impedir a espionagem chinesa de “desanimadores”. “Eles estão dispostos a se esforçar muito mais do que nós estamos para tentar pará-los”, disse ele.
O FBI estima que existam “centenas” de dissidentes nos EUA que a China espera atingir como parte de uma campanha cada vez mais agressiva de retaliação pessoal e política.
“A maioria dos alvos são residentes permanentes ou cidadãos naturalizados — pessoas com direitos e proteções importantes sob a lei dos EUA”, disse o diretor Wray.
Por Redação