Assassino de Shinzo Abe cita rancor contra movimento religioso da Igreja da Unificação como motivo para o crime

Novos detalhes sobre como o assassino confesso do ex-premier japonês Shinzo Abe, Tetsuya Yamagami, planejou suas ações, e sobre suas alegadas motivações para cometer o crime, se tornaram públicos neste sábado (9).

Tal como tinham dito na véspera, investigadores reiteraram que Yamagami, um homem de 41 anos, afirma não ter problemas políticos com Abe.

No lugar disso, ele acusa a Igreja da Unificação, movimento religioso criado pelo sul-coreano falecido Sun Myung Moon, conhecido como Reverendo Moon, de arruinar sua família, e diz que acreditava que, atingindo o ex-primeiro-ministro, prejudicaria o grupo.

“Minha família se juntou a essa religião e nossa vida se tornou mais difícil depois de doar dinheiro para ela”, disse Yamagami à polícia, segundo o jornal Asahi Shimbum. “Eu queria atingir o mais alto funcionário da organização, mas era difícil. Então, mirei em Abe porque acreditava que ele estava ligado a ela. Eu queria matá-lo.”

Não há vínculos conhecidos entre o movimento religioso e o ex-primeiro-ministro. No entanto, teorias da conspiração com acusações desprovidas de evidências circulam na internet, acusando seu avô materno, Nobusuke Kishi, que foi primeiro-ministro do Japão de 1957 a 1960 e foi acusado de cometer crimes de guerra na Manchúria, no Nordeste da China, de ter antigos vínculos com a igreja.

A polícia disse anteriormente que o crime foi motivado por “ódio a um determinado grupo”, que então não foi identificado.

De acordo com notícias japonesas, a mãe de Yamagami tornou-se membro do movimento religioso e perdeu dinheiro por isso. Um homem que se identificou como parente de Yamagami disse ao Asahi Shimbun que sua família teve problemas com o movimento religioso.

“Sua família se desfez devido ao grupo”, disse o homem, em referência à Igreja da Unificação. “Estou convencido de que Yamagami sofreu danos devido à organização.”

A polícia e a imprensa japonesa caminham em uma linha delicada, pois não podem levantar suspeitas contra uma organização sem qualquer relação com o crime.

Por outro lado, se não divulgarem informações, isso pode levantar suspeitas de que integram uma conspiração.

Além disso, surgiram outros detalhes sobre Yamagami: ele morava em um apartamento de um cômodo a cerca de três quilômetros da estação Yamato-Saidaiji em Nara, onde o crime foi cometido. Como é tradição no Japão, o primeiro-ministro fazia um discurso de campanha na rua, próximo a eleitores, para eleições neste domingo para a Câmara Alta.

Yamagami soube da visita de Abe em 8 de julho por meio do site do Partido Liberal Democrata, a sigla que comandou o Japão durante o maior período do pós-guerra.

Ele usou uma arma artesanal feita de metal e madeira, com dois canos conectados por fita adesiva e um cabo. A polícia disse ter encontrado outras armas com três, cinco e seis canos na casa de Yamagami, além de explosivos rudimentares.

O jornal Yomiuri afirmou, citando o especialista em armas Tetsuya Tsuda, que provavelmente ele usou pólvora como propulsor, extraída a partir de fogos de artifício convencionais, que podem ser facilmente obtidos no Japão, ao contrário das armas de fogo, rigorosamente controladas.

Yamagami, que estava desempregado, já havia trabalhado para uma fabricante na região de Kansai por volta do outono de 2020, mas pediu demissão em maio deste ano, de acordo com um funcionário da agência de recrutamento. Ele foi anteriormente membro da Força de Autodefesa Marítima por cerca de três anos até agosto de 2005.

Yamagami disse à polícia que, no dia anterior ao assassinato, ele foi para a cidade de Okayama, onde Abe também estava fazendo um discurso de campanha para a eleição da Câmara Alta neste domingo.

Igreja no Brasil

A Igreja da Unificação crê que, em 1936, Deus, por meio de Jesus, escolheu o jovem coreano Sun Myung Moon, mais conhecido como Reverendo Moon, para representá-lo na terra.

Nos anos 1990 o Reverendo Moon deu início ao ambicioso projeto de transformar a cidade de Jardim, no Mato Grosso do Sul, em uma cidade modelo para o mundo, com milhares de imigrantes coreanos, japoneses e de dezenas de outras nacionalidades. Moon, que morreu em 2012 aos 92 anos, comprou 85 mil hectares de terras no Mato Grosso do Sul, além de outros 200 mil hectares no lado paraguaio.

Em maio de 2002 a Polícia Federal e a Receita Federal realizaram operação de busca e apreensão em 13 escritórios e casas de funcionários do Reverendo Moon localizados em São Paulo e em cinco cidades do Mato Grosso do Sul. Depois de uma investigação, a Polícia Federal não encontrou irregularidades e arquivou o caso. Uma CPI do mesmo ano da Assembleia Legislativa Sul-Matogrossense também não encontrou nenhum crime e arquivou o caso.

Por Redação

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