As semelhanças e diferenças entre Dilma Rousseff e a presidente eleita do México

Um presidente popular que não pode disputar a reeleição indica uma aliada de confiança e com perfil técnico para concorrer como sua sucessora e se tornar a primeira mulher presidente do país.

Esse quadro descreve a chegada ao poder da ex-presidente Dilma Rousseff no Brasil, em 2010, após os dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

É também um retrato do caminho percorrido pela presidente recém-eleita do México, Claudia Sheinbaum. Candidata aliada do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, a ex-prefeita da Cidade do México, de 61 anos, obteve ampla vitória nas eleições presidenciais desse domingo (2).

As comparações entre Claudia Sheinbaum e Dilma Rousseff são baseadas principalmente nas coincidências em relação aos seus padrinhos políticos.

Para Christopher Sabatini, do instituto independente de política Chatham House, ambas seguem os “grandes passos” de seus sucessores, que atuaram na fundação de seus respectivos partidos: Partido dos Trabalhadores (PT), no caso de Lula, e Movimento Regeneração Nacional (Morena, na sigla em espanhol), no de López Obrador.

“[Dilma como Sheinbaum] são mulheres que foram cultivadas por líderes homens muito populares e carismáticos”, diz Sabatini, que é pesquisador do Programa para a América Latina, EUA e Américas do think tank sediado em Londres.

Ambas também quebraram paradigmas ao serem eleitas as primeiras mulheres presidentes de seus países. Enquanto Dilma foi apenas a 6ª mulher eleita presidente na América Latina, Sheinbaum ocupa o 8º lugar da lista.

Para a cientista política e diretora do Instituto King’s Brazil, da King’s College London, Andreza Aruska de Souza Santos, o sucesso eleitoral das duas latino-americanas representa “uma ruptura” em uma região dominada por lideranças masculinas.

“Mas assim como Dilma, é possível que a presidente eleita do México tenha que enfrentar desafios relacionados à questão de gênero”, diz. “Mulheres em cargos de liderança normalmente precisam que se provar muito mais e entregar muito mais resultados [do que os homens]”.

Questões de gênero

Para Souza Santos, a própria comparação entre as duas pode ser vista como fruto da desigualdade de gênero, especialmente quando se baseia apenas em seus antecessores políticos.

Segundo a especialista, o “apadrinhamento” de Lula ou de López Obrador ganhou mais destaque nas campanhas de Dilma e Sheinbaum do que em outras eleições em que o candidato em questão era homem.

“Líderes políticos que herdam mandados e momentos políticos não são tão incomuns”, diz. “Mas nesse caso as circunstâncias foram muito mais evidenciadas e apontadas como essenciais para a eleição delas.”

Mas a cientista política acredita que o peso da popularidade de seu antecessor pode ter sido maior no governo de Dilma Rousseff do que será para Claudia Sheinbaum.

“Dilma era muito questionada por nunca ter ocupado um cargo eletivo [antes de 2011], mas a presidente eleita do México foi prefeita da Cidade no México e inclusive enfrentou uma pandemia durante sua liderança.”

Lições do governo Dilma

Para Andreza Aruska de Souza Santos, da King’s College, a inabilidade da ex-presidente ao lidar com a oposição no Congresso Nacional foi central para a abertura do processo de afastamento. Dilma Rousseff deixou o cargo de presidente em 2016 após sofrer um processo de impeachment.

Segundo a especialista, esse deve ser um ponto de alerta para Claudia Sheinbaum e seu governo.

“A relação com o Congresso é muito importante e políticos com perfil mais técnico tem uma tendência a colocar execução do trabalho como prioridade diante da relação política”, diz.

Manejo político

Mas o contexto legislativo enfrentado pelas duas líderes é totalmente diferente. Enquanto o Brasil de Dilma tinha um Congresso mais polarizado, que exigia muitas negociações, o partido criado por AMLO, Morena, é dominante na política mexicana.

Christopher Sabatini afirma ainda que, apesar de ter um perfil técnico, Sheinbaum tem mais “olfato político”, uma expressão em espanhol usada para indicar a experiência no jogo da política.

Para o pesquisador da Chatham House, o grande desafio de Claudia Sheinbaum será se diferenciar de López Obrador e criar uma história própria na Presidência — dificuldade também enfrentada por Dilma.

“Se há uma lição do governo Dilma [para Sheinbaum] é não apenas surfar na onda do seu antecessor. Tentar ser uma política por conta própria”, avalia Sabatini.

Por Redação

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