Argentina vive incerteza total a nove meses das eleições

A nove meses da eleição e a seis do prazo legal para o registro de candidaturas da disputa presidencial de outubro, nenhuma das duas principais coalizões partidárias da Argentina definiu candidato, num sinal das incertezas políticas, econômicas e jurídicas que envolvem o pleito, dizem analistas.

Do lado do governo, o presidente Alberto Fernández parece tentar articular um retorno ao cenário eleitoral, após longo período de desgaste político — causado pelas críticas de sua vice, Cristina Kirchner, e pelo fracasso de sua política econômica. A inflação que chegou a 94,8% em 2022, ampliou os índices de pobreza do país e elevou Sergio Massa — um cacique político da Grande Buenos Aires — à condição de “superministro” da Economia.

Por parte da oposição, a indefinição é semelhante, na medida em que seu mais conhecido líder nacional, o ex-presidente Mauricio Macri, não mostra disposição de se candidatar. Ao mesmo tempo, as pesquisas são tão fragmentadas — em razão do grande número de possíveis postulantes — quanto imprecisas e não são levadas em conta pelos especialistas.

Ofensiva

Fernández, Cristina Kirchner e Massa lideram grupos diferentes na coalizão governista Frente de Todos (FdT). Considerado carta fora do baralho poucos meses atrás, Fernández aparentemente tenta retomar algum protagonismo ao lançar uma ofensiva — com remotíssimas chances de sucesso — para destituir a Corte Suprema.

Já Cristina — sentenciada por corrupção no fim de 2022 —, assegura que não se candidatará a nenhum cargo em outubro, embora poucos argentinos acreditem nisso. Enquanto isso, Massa corre por fora e aguarda o comportamento da economia nos próximos meses para decidir seu futuro.

“Neste momento, nenhum político governista tem a perspectiva de se tornar um candidato competitivo e o cálculo que se faz agora é o de redução de danos — manter influência política e bases organizadas”, diz o analista Sergio Berensztein, fundador da consultoria Berensztein.com.

“Pelo lado da oposição, digamos, mais tradicional, sem Macri, a coalizão Juntos por el Cambio (JxC) ainda não se definiu entre seus pré-candidatos com mais chances, a ex-ministra da Defesa do governo Macri, Patricia Bullrich, e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta”, diz Berensztein.

Fernández

“Salvo alguma grande surpresa nos próximos meses, a coalizão do governo, que em certa medida reflete as divisões históricas do peronismo, está diante do cenário de escolher quem é o melhor para perder em outubro”, disse Berensztein.

Para o analista, “uma derrota eleitoral seria uma saída menos humilhante para Fernández, que se apresentaria como alguém que leva o desgaste político de um governo que enfrentou a pandemia de covid e uma dura negociação para fechar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, disse.

Diante da incapacidade de oferecer uma gestão econômica mais eficaz, Fernández aumenta a aposta no campo político. Além do enfrentamento com o Judiciário, ele busca se aproximar do Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva para reposicionar seu país como força regional, percorre províncias para mostrar-se influente e articula reuniões com governadores e empresários em busca de protagonismo.
“Fernández, se quiser seguir na política, está obrigado a exercer ao menos parte de seu papel como presidente e candidato, afirmou Mariano Vila, da consultoria LLYC.

“Em tese, qualquer candidatura peronista entra em uma eleição com chance de vencer, uma vez que tem um eleitorado historicamente consolidado”, prossegue Vila. “E, nesse universo, o kirchnerismo ainda concentra a maior parte dos votos do peronismo”, disse.

Além disso, a situação judicial da vice-presidente se converteu em uma nova e importante variável na politica eleitoral argentina. “A ação contra Cristina, que trouxe sólidas evidências de corrupção, dá ao kirchnerismo e à FdT a oportunidade de apresentar-se como vítima na campanha eleitoral”, afirma o analista político argentino Agustin Fontevecchia.

Por Redação

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