Argentina avalia mais mudanças após a nomeação de um “superministro”

A nomeação de um “superministro da Economia” não deve ser a única mudança no Gabinete de Alberto Fernández na Argentina. Um dia após anunciar que o atual presidente da Câmara dos Deputados Sergio Massa, considerado um dos quadros mais pró-mercado do peronismo, liderará um ministério com amplos poderes, o governo analisa outras medidas como parte de um “plano de austeridade” para reduzir a sua estrutura, que conta atualmente com 21 ministérios, e para melhorar sua agilidade.

A principal opção agora considerada é a integração das pastas de Obras Públicas e Transportes, com o atual responsável pela primeira, Gabriel Katopodis, liderando o novo ministério. O Ministério do Desenvolvimento Territorial e Habitação também poderia entrar no plano. A medida pode ser confirmada durante o final de semana.

Além disso, houve uma mudança na vice-chefia do Gabinete presidencial, com a nomeação de Juan Manuel Olmos, encarregado de dar maior agilidade ao governo. Segundo o jornal La Nación, a Presidência está tomada por uma paralisia, e nas últimas semanas passavam pela chefia de Gabinete apenas 30 expedientes por mês. Isto significa, segundo o jornal, 10% da quantidade de compromissos de setembro do ano passado, quando o cargo tinha outro ocupante.

Considerado próximo de Fernández, o atual vice-chefe de gabinete, Juan Manzur, não será demitido, mas irá para o órgão que Massa vai comandar. O novo ministério agregará os atuais ministérios da Economia, do Desenvolvimento Produtivo e da Agricultura, Pecuária e Pesca, além de lidar com as relações com organismos internacionais — isto é, com o FMI e outros credores nacionais e internacionais.

As mudanças indicam o aprofundamento definitivo do isolamento do próprio Fernández e a ascensão de Massa, que demonstra ter ambições presidenciais. Há um mês, ele chegou a ser anunciado como sucessor de Martín Guzmán na Economia, que renunciou em 2 de julho, mas foi vetado pela vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner. Em seu lugar, foi então nomeada Silvina Batakis, que não conseguiu aplacar a fúria dos mercados contra o peso argentino.

Massa terá mais poderes dos que os dois antecessores. Espera-que que ele possa pôr em prática pelo menos algumas das medidas dolorosas que os investidores dizem serem necessárias para corrigir os desequilíbrios econômicos no país, como taxas de juros mais altas, cortes de gastos e uma desvalorização da moeda.

No entanto, ele pode não ser capaz de entregar todas as medidas exigidas pelos investidores e pelo FMI, com o qual o país tem um programa de US$ 44 bilhões, segundo Eduardo Levy-Yeyati, fundador da consultoria Elypsis Partners, com sede em Buenos Aires.

— Se ele entregar parte das medidas, podemos esperar uma leve recuperação e um pouco de respiro até 2023, quando as expectativas começarão a olhar para o próximo governo — disse Levy-Yeyati à Bloomberg. — Se não, receio que o governo tenha ficado sem substitutos e a deterioração só vá se acelerar.

A crise política da Argentina decorre de uma antiga disputa relacionada a estratégia econômica entre Fernández e a sua poderosa vice-presidente Cristina Kirchner. Muitos analistas veem o relacionamento entre os dois líderes como irremediavelmente deteriorado, prejudicando a tomada de decisões.

Por Redação

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