Após invasão de residência presidencial, manifestantes incendeiam casa de primeiro-ministro do Sri Lanka

Manifestantes incendiaram a casa particular do primeiro-ministro do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, neste sábado (9), durante uma série de protestos intensos na capital do país, Colombo. Mais cedo, uma multidão invadiu a residência presidencial minutos depois de o presidente Gotabaya Rajapaksa abandonar o local. A forte crise econômica que o país enfrenta tem levado dezenas de milhares de pessoas às ruas, que pedem a renúncia de ambos os líderes.

O presidente Rajapaksa disse que deixará o cargo na próxima quarta-feira (13), comunicou o presidente do Parlamento, Mahinda Yapa Abeywardena, em uma mensagem televisiva. A informação ainda não foi confirmada pelo próprio mandatário. O premier Wickremesinghe também chegou a afirmar que está disposto a renunciar ao cargo pela “proteção dos cidadãos” e para dar lugar a um “governo de unidade nacional”, mas sem informar uma data.

Depois da invasão à residência oficial do presidente, que foi transportado para um local secreto protegido pelo Exército, o primeiro-ministro convocou uma reunião de emergência para discutir uma “saída rápida” para a crise. Nem o presidente e nem o premier estavam em casa durante as invasões às suas casas.

A família do presidente é uma das mais influentes na política do país. Seu irmão mais velho, o ex-presidente Mahinda Rajapaksa, deixou o cargo de primeiro-ministro em maio após embates entre seus simpatizantes e manifestantes antigoverno, que deixaram três mortos, um deles um deputado, e mais de 150 feridos. Além dele, três outros membros da família Rajapaksa renunciaram a cargos de alto escalão na época.

O país asiático passa pela pior crise econômica desde a independência, em 1948, sofrendo com a falta de combustível e remédios, além da inflação recorde. O governo declarou moratória da dívida externa de US$ 51 bilhões e iniciou negociações de resgate com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O cenário – atribuído à má gestão econômica e à redução do turismo provocada pela pandemia de covid-19 – envolve cortes sucessivos de energia e longas filas nos postos de gasolina, o que tem levado o país a viver uma série de protestos violentos nos últimos meses, embora em menor escala do que neste sábado.

O Sri Lanka ficou sem reservas cambiais para a importação de itens essenciais como combustível e remédios, e as Nações Unidas alertaram que mais de um quarto dos 21 milhões de habitantes do país corre o risco de sofrer com falta de alimentos.

A crise econômica é um grande revés para o país, que ainda enfrenta o legado de uma sangrenta guerra civil de três décadas. O conflito, entre o governo e os insurgentes Tamil Tiger, que assumiram a causa da discriminação contra a minoria étnica tâmil, terminou em 2009. Mas muitas de suas causas permaneceram, com a família Rajapaksa continuando a servir aos interesses da maioria budista cingalesa.

Durante as invasões, segundo mostram vídeos em mídias sociais, os manifestantes pularam na piscina da residência de Rajapaksa, descansaram nos quartos e fritaram lanches na cozinha presidencial.

“Vim aqui hoje para mandar o presidente para casa”, disse Wasantha Kiruwaththuduwa, de 50 anos, que caminhou 16 quilômetros para se juntar ao protesto. “Agora o presidente deve renunciar. Se ele quer que a paz prevaleça, ele deve renunciar.”

As especulações sobre o paradeiro de Rajapaksa duraram todo o dia e continuaram a se intensificar à noite, mas sua localização permaneceu incerta. Funcionários do Ministério da Defesa e do Exército não responderam imediatamente a perguntas sobre onde o presidente estava.

Segundo autoridades de saúde, pelo menos 42 pessoas ficaram feridas durante confrontos com a polícia, nos quais as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e canhões de água contra manifestantes e dispararam tiros para o ar para tentar dispersá-los.

Por Redação

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