Antigo hotel Cassina do centro de Manaus será polo tecnológico

“O local, denominado Casarão da Inovação, passará a ser um pólo de desenvolvimento tecnológico, com investimento de pequenas empresas emergentes conhecidas como “startups””

 
Inaugurado ainda no período áureo da borracha, entre os séculos 19 e 20, o Hotel Cassina foi um dos principais hotéis de Manaus. A estrutura do local esteve abandonada por anos até que, em 2019, a Prefeitura de Manaus anunciou a restauração do prédio como parte do programa Manaus Histórica, que visa retomar o uso e a valorização dos prédios históricos da região. De acordo com a Prefeitura, as obras estão 70% concluídas, com previsão de término ainda para este ano.
O local, denominado Casarão da Inovação, passará a ser um pólo de desenvolvimento tecnológico, com investimento de pequenas empresas emergentes conhecidas como “startups”. Para o prefeito Arthur Virgílio Neto a restauração e reutilização do lugar será um marco na criação do Polo Digital de Manaus e colocará a capital amazonense em outro patamar, aumentando sua competitividade frente a outras cidades.
“Essa obra coroa o que tanto busquei fazer nesses quase oito anos de governo, que é valorizar o centro de Manaus, resgatando sua história e identidade. E o antigo hotel Cassina, completamente revitalizado, ocupava um lugar especial nesse sonho, transformando o que já foi a sede do desperdício na época da borracha em um templo da economia 4.0, com um polo de alto conteúdo tecnológico”, avaliou.
Ao todo, a estrutura apresenta quatro pavimentos e uma área entre 1.500 e 1.600 metros quadrados. O subsolo abrigará todas as funções técnicas, assim como a sala de formação, enquanto o térreo contará com a recepção, lounge e as principais salas de reunião e laboratórios. O primeiro pavimento propõe duas salas de reunião e um plano de trabalho aberto. O pavimento superior apresenta um espaço para café/restaurante, com vista privilegiada aos usuários, que vão poder olhar a praça Dom Pedro II, o Museu da Cidade e outros prédios do centro histórico, além do rio Negro, a partir do terraço panorâmico.
O projeto do centro tecnológico foi inspirado no Porto Digital, um parque tecnológico localizado em Recife (PE), que atualmente tem 328 empresas instaladas e movimenta aproximadamente R$ 1,9 bilhão por ano.

Imponência do hotel agora dará lugar a um pólo tecnológico
Imponência do hotel agora dará lugar a um pólo tecnológico | Foto: Instituto Durango Duarte

Importância histórica e pessoal
Para o historiador Otoni Mesquita a restauração de prédios e monumentos históricos é um elemento fundamental para recuperar um pouco da memória daquele lugar e, com isso, relembrar o valor que aquela referência tem para a cidade.
“É interessante que isso esteja equilibrado com a realidade, que realmente tenha valor para essas pessoas. De qualquer forma, isso sempre vai ter valor para àquelas pessoas que estão mais ligadas às tradições. E quando falo de tradições, não destaco apenas a elite, falo de elementos que serviram para todas as classes sociais e tem significados diferenciados, que fazem parte da história local. Restaurar é muito significativo”, conta o historiador.
Ele conta que uma forma de evitar os gastos exacerbados com restaurações de prédios é a manutenção constante. A obra teve o projeto licitado pelo  Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) e foi aprovada junto ao Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), resultando em um investimento de R$ 12.964.868,25, de acordo com a Prefeitura Municipal. Sobre a importância de prédios históricos para a cidade, Otoni diz que é importante tanto para resgatar a história local, quanto pessoal.
“Ainda que possamos ter a história escrita, lembrada oralmente, ela demonstra, sobretudo, um desprezo com a nossa ancestralidade, com nossas referências, com aquilo que nos dá identidade. É como olhar uma fotografia, muitas vezes até esquecemos das pessoas, mas quando olhamos a fotografia, é como olhar o prédio recuperado, é capaz de voltar muitas lembranças até para a história pessoal de cada um. Então a manutenção é importante não só do ponto de vista histórico, como pessoal”, explica Otoni.
 

O hotel funcionava como uma casa de prostituição
O hotel funcionava como uma casa de prostituição | Foto: Ione Moreno

Antiga casa de prostituição
O hotel recebeu o sobrenome de seu primeiro proprietário, o italiano Andrea Cassina, e possui registros de existência datados de 1897,  no período em que a cidade recebia uma grande demanda de estrangeiros imigrantes e a hotelaria passava a se tornar necessidade.
Mais do que servir como hospedagem para muitos, ele também era uma casa de prostituição, com o diferencial de não sofrer penalidades do Código de Postura municipal daquela época.
Seus principais frequentadores eram homens possuidores de grandes fortunas, que iam ao lugar em busca de prostitutas de luxo. A propriedade passou por diversas direções após a morte de Cassina, em 1905, até que em 1922 uma filial de mesmo nome foi aberta também no Centro da cidade, na Avenida Sete de Setembro.
Em meados da década de 1950 o hotel já perdia sua imponência, sendo chamado pejorativamente de Cabaré Chinelo. Durante as últimas décadas já foram estudados diversos planos de restauro, mas apenas em 2019 as ações se iniciaram.
 
Por Deborah Arruda
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