Ameaça de prisão a manifestante que bloquear rua, cargo para a irmã e “Plano Motosserra”: a primeira semana do governo do novo presidente da Argentina

Javier Milei completou neste domingo (17) uma semana como presidente da Argentina. Em pouco tempo, o governo já conta com medidas polêmicas que arranham a imagem de Milei construída durante a campanha presidencial.

A corrida presidencial do ultraliberal contou com um discurso radical antipolítica, contra “castas” que ocupavam e eram beneficiadas por seguidos governos, e um mote: “Viva a liberdade, car****”.

O primeiro contraste se deu ainda no dia da posse, em 10 de dezembro. Milei derrubou decreto de 2018 que impedia parentes de membros eleitos de atuar na administração público. Ele indicou Karina Milei, sua irmã, como secretária-geral do governo.

Como secretária-geral, Karina auxiliará seu irmão em políticas públicas, preparação de comunicados, participação em tarefas cerimoniais e protocolares, além de gestão das relações com o público, segundo a imprensa argentina.

O segundo episódio ocorreu na quinta (14), quando a ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich, terceira colocada nas eleições presidenciais, anunciou regra que ameaça prender em flagrante manifestantes que bloquearem ruas da Argentina durante protestos. A medida colide frontalmente com o “Viva a liberdade” de Milei.

“É hora de acabar com esta metodologia [de protestos] que tudo o que faz é gerar a desordem total e absoluta e o descumprimento da lei, além de não proteger quem tem que levar a vida normal e pacificamente”, afirmou Bullrich.

O texto estabelece ainda, entre outros pontos, que os responsáveis pelos protestos banquem os custos decorrentes da força policial, a criação de uma lista com as entidades que mais realizam bloqueios e o veto à participação de menores de idade nesses atos.

Segundo um levantamento da consultoria Diagnosis Político divulgado pelo jornal “Clarín”, só em novembro de 2023 ocorreram 568 piquetes em todo o país. O recorde foi registrado em agosto deste ano: 882 interdições.

“Consideramos ilegal [o anúncio de Bullrich]. Na Argentina há um direito à manifestação que está amparado na Constituição. Se a ministra quer suspender as garantias constitucionais que existem só há um caminho: mandar [um pedido] ao Congresso para que se declare um estado de Sítio”, disse Gabriel Solano, dirigente do movimento social Polo Obrero.

O movimento marcou para esta quarta-feira (20), aliás, o que deve ser o primeiro teste efetivo da lei: uma paralisação em todo o país para protestar contra as medidas econômicas de Milei. Em entrevista a uma rádio argentina neste sábado (16), Patricia Bullrich disse que a lei será cumprida.

Durante a campanha eleitoral, Javier Milei repetiu o slogan “el que corta no cobra” (“quem corta, não recebe”, em português), para dizer que aqueles que bloquearem as ruas não receberão benefícios sociais. Bullrich voltou neste sábado a ameaçar esse corte.

Na terça (12), o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou o plano de ajustes, a medida mais esperada do novo governo. O pacote inclui termos como a desvalorização do peso, a redução de subsídio e o cancelamento de licitações.

O ajuste foi chamado na imprensa de “Plano Motosserra”, em referência à motosserra que Milei exibiu na campanha e que simbolizava o que o, à época candidato, queria fazer com os gastos públicos, ou seja, cortá-los brutalmente.

“Estamos na pior fase da nossa história”, disse o ministro, que afirmou que a Argentina gasta bem mais do que arrecada. “Se seguir como estamos vamos ter hiperinflação.” A ideia, diz, é “neutralizar a crise”.

Todas as medidas entrarão em vigor com a virada do ano.

Um dia após o plano ser anunciado, a petrolífera Shell aumentou os preços dos combustíveis em cerca de 37%, e a estatal argentina YPF aplicou um aumento, em uma média, de 25%, gerando uma corrida a postos de gasolina diante de um temor de mais subidas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elogiou as medidas e as tratou como “audaciosas”.

“Essas ações iniciais audaciosas têm como objetivo melhorar significativamente as finanças públicas de maneira a proteger os mais vulneráveis na sociedade e fortalecer o regime de câmbio”, informou o órgão em nota.

Por Redação

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