Guerra na Ucrânia: Empresas europeias correm para recrutar refugiados, em meio a escassez de mão de obra

PARIS — A guerra na Ucrânia está completando um mês e, desde então, os países da Europa não param de receber refugiados e não medem esforços para acelerar sua integração a um novo país e uma nova cultura. A começar pelo mercado de trabalho.

Empresas alemãs estão divulgando milhares de vagas, enquanto as portuguesas prometem formação linguística para ucranianos à procura de trabalho. Na Lituânia, estão oferecendo creches para ajudar as mulheres a se deslocarem sem problemas para o local de trabalho.

São ofertas de emprego que vão desde engenharia de alto nível até trabalho no varejo e em fábricas, para ajudar os refugiados a se estabelecerem rapidamente – bem como para preencher sua própria escassez de mão de obra.

A divulgação está acontecendo com uma velocidade e alcance que são raros na União Europeia. Ao contrário do que ocorreu nas guerras de Síria, Iraque e Afeganistão, os 3 milhões de ucranianos que fogem das bombas russas estão sendo colocados em um caminho rápido para se manterem seguros e conseguirem emprego, já que os governos dispensam a exigência de visto e fornecem acesso quase instantâneo aos mercados de trabalho e educação.

Milhares de vagas estão sendo oferecidas exclusivamente a refugiados ucranianos por agências de recrutamento em campo e por meio de uma vasta rede de quadros de empregos on-line que surgiram nas mídias sociais.

– Vou trabalhar em qualquer coisa – disse Nastya Filipas, 25, que fugiu para a Romênia na semana passada com sua irmã de 15 anos, Viktoryia, quando o ataque da Rússia se aproximou de sua cidade natal, Odessa.

Vagas ociosas na Europa

Com apenas US$ 200 no bolso, as irmãs planejavam ficar com um amigo ucraniano que havia alugado um apartamento em Bucareste. Nastya disse que trabalhou em restaurantes, fazia bordados e tapetes artesanais.

– Espero encontrar alguma coisa – disse ela, acrescentando que temia que sua incapacidade de falar romeno ou inglês fosse uma desvantagem.

Para muitos outros, porém, os empregos foram oferecidos antes mesmo de decidirem se queriam ficar.

Algumas ofertas visam a preencher as vagas ociosas na Europa desde a reabertura das economias, abaladas pela pandemia, em setores que vão de assistência médica na Alemanha até trabalho em armazéns na República Tcheca.

A agência global de recrutamento temporário Adecco lançou um site na semana passada para conectar candidatos ucranianos aos empregadores. Mais de 200 empresas publicaram vagas e cerca de 900 ucranianos se registraram na plataforma.

30 mil visitas online em um dia

– O trabalho sustenta sua capacidade de começar uma nova vida e garantir seu futuro – disse o CEO da Adecco, Alain Dehaze.

Na Alemanha, onde há mais de 300 mil vagas não preenchidas, um grupo de empresários criou o JobAidUkraine para ajudar os refugiados que chegam de trem, ônibus e avião a encontrar trabalho.

Em um único dia, quase 30.000 visitantes on-line visualizaram mais de 5.000 vagas listadas por empresas de Londres a Lisboa, para trabalho no McDonald’s, especialistas em recursos humanos, desenvolvedores de software e auxiliares de enfermagem.

– Ficamos surpresos ao ver grandes e pequenas empresas anunciando em todos os setores, de programadores a agricultores e bares – disse Christina Kaesshoefer, cofundadora do site.

-As pessoas querem fazer tudo o que podem para ajudar.

Na Ucrânia, 70% têm ensino médio ou superior

A Ucrânia é reconhecida por sua força de trabalho qualificada, com 70% dos trabalhadores com diplomas de ensino médio ou superior. O país é um importante polo de engenharia de tecnologia, reconhecido na Europa Central e Oriental, atraindo Microsoft, Cisco, Google e outras empresas multinacionais para terceirizar o trabalho.

Mas a guerra destruiu toda uma sociedade. Programadores, advogados e motoristas de caminhão estão entre as dezenas de milhares de homens ucranianos com idades entre 18 e 60 anos que pegaram em armas para defender seu país.

A maioria dos refugiados é de mulheres e crianças forçadas a deixar maridos, pais e irmãos para trás.

Elas precisam de moradia, creche e vagas nas escolas antes de começarem a trabalhar. Muitas mulheres estão ansiosas para voltar para casa na Ucrânia rapidamente, assim que a guerra terminar.

No entanto, a situação na Ucrânia permanece altamente volátil. E a guerra ainda não deu sinais de que vá terminar, o que pode forçar os refugiados a permanecerem mais tempo fora do país.

E, mesmo com as abundantes ofertas de trabalho, outras barreiras devem ser superadas se os refugiados quiserem se instalar realmente em outro país.

Em Portugal, 20 mil ofertas para ucranianos

A maioria fala russo e foi para países do Leste Europeu, onde já trabalham muitos ucranianos. Outros, no entanto, estão migrando para mais longe na Alemanha, França ou Portugal, onde as barreiras linguísticas podem ser assustadoras.

Em Portugal, o governo está oferecendo cursos em português como parte do esforço mais amplo da União Europeia para acelerar a integração. As empresas lusas já registraram 20 mil ofertas de emprego para ucranianos em tecnologia da informação, transportes e hospitalidade.

Cuidar de crianças pode ser um desafio ainda maior. Na França, as mães ucranianas conseguiram colocar seus filhos imediatamente na escola enquanto procuram trabalho.

Mas em países mais próximos da Ucrânia, como a Polônia, para onde foi um grande número de refugiados, muitas escolas estão com capacidade excessiva.

Na Lituânia, com 20.000 refugiados ucranianos, as empresas estão encontrando maneiras de acomodar mães trabalhadoras, disse Inga Balnanosiene, diretora de serviços de emprego do Ministério do Trabalho da Lituânia.

Muitos dos que chegam têm diplomas, incluindo jornalistas, advogados, programadores de tecnologia e engenheiros, enquanto outros trabalharam em cargos qualificados, disse ela.

As empresas criaram jardins de infância ou creches no local, permitindo que os recém-chegados estejam perto de seus filhos enquanto assumem funções como profissionais de saúde, professores, programadores e costureiras.

Fonte: Extra  Foto: Jonathan Alpeyrie / Bloomberg

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