Pingentes, escapulários, medalhões, mandalas e a sociedade dos políticos brasileiros
O leitor do Portal Barrancas, Romilson de Azevedo, nos enviou um texto analítico sobre a classe politica no Brasil, estamos agora compartilhando com vocês.
A cultura de carregar algo pendurado no pescoço está presente na grande maioria das sociedades que habitam o mundo. É um costume que geralmente tem o objetivo de mostrar a identidade de uma pessoa a partir de algo que acredita, admira ou idólatra, sendo a última, predominante nas alusões feitas em crenças religiosas.
Além disso, os pêndulos envolvidos nos pescoços também costumam dizer de maneira muito subjetiva, a condição social de um indivíduo. Relativamente, o tamanho do pêndulo usado poderá evidenciar o poder aquisitivo por parte de quem o carrega. Pingentes, escapulários e medalhões são alguns dos modelos de pêndulos aproveitados pelos amantes do acessório que muitas vezes possui `status´ de moda, inclusive, com destaque no cenário cultural brasileiro.
Apologeticamente falando, no cenário político brasileiro existem representantes partidários que podem ser classificados como um desses pêndulos, cujo o comportamento indicará os partidos e/ou legendas dos quais são correligionários. A apologia feita aqui, pode ser entendida dentre outras, como uma explicativa simples de como os políticos são organizados no momento em que, por ocasião de um pleito eleitoral se submetem à análise da sociedade.
As variáveis que levam a estarem dentro de determinada categoria podem ser elencadas a partir da quantidade de partidos que compõem as coligações, experiência em pleitos eleitorais, condição financeira, liderança comunitária, destaque nas pesquisas, ser oposição, ser situação, ser chefe de departamento, possuir apoio de políticos renomados, dentre outras.
Não tem jeito, a corrida ao poder mobiliza o povo brasileiro para momentos de crença e até mesmo de idolatria a partidos e candidatos. A preferência pelo concorrente/partido ao qual irá “trabalhar na campanha” é externada pelos pêndulos colocados no pescoço. E você, tenta identificar na campanha eleitoral de 2016, qual candidato de sua cidade se enquadra nos perfis abaixo?
Pingentes: Pode-se dizer daquele político que até possui popularidade e grandes possibilidades de alcançar algum êxito em suas investidas eleitorais, mas, comumente fica no quase, pois, muitas vezes são massacrados pelos ditos medalhões. Geralmente, se apegam aos “benefícios” financeiros trazidos pelos partidos, sobretudo, quando vivem em meio ao cotidiano de vulnerabilidade social existente nas periferias das grandes metrópoles e nos municípios do interior dos Estados. São pessoas que podem até não possuir instrução suficiente para entender a ideia do seu grupo político, mas, ao se filiar ao partido pode contribuir, mesmo com poucos votos, para determinada legenda e colocar outro no poder.
Escapulários: Tradicionalmente trata-se de uma tira de pano ou um pedaço de linha (cordão) usada pendente sobre o pescoço que carrega duas imagens alusivas à fé do indivíduo, uma na altura do peito e outra nas costas. De repente, para esta eleição, seriam santinhos dos cargos de prefeito e vereador. Assim, podemos dizer que no calor das campanhas eleitorais o candidato dito escapulário é aquele que de fato propaga a imagem dos pretendentes de seu partido concorrente ao cargo majoritário por meio de ‘santinhos’, bandeirolas, adesivos dentre outros.
Não esquecendo, que é ele o responsável de apresentar o candidato majoritário “dele” para seus familiares e amigos. O candidato escapulário, também significa proteção, pois, são eles que acusam a presença dos agentes da Justiça que rondam as proximidades de suas mutretas como compra de votos, reuniões com eleitores e até condução de representados ao local de votação. Atualmente, os escapulários, enquanto acessório de moda, são revertidos de ouro, prata, bronze ou mesmo de madeira.
O candidato escapulário, se comporta como um camaleão, pois, precisa fazer um esforço imenso para tentar compensar a ausência dos atributos que medalhões possuem. Por fim, se considerarmos o latim que origina a palavra escapulário, podemos dizer que esses candidatos são de fato os ombros que carregam os verdadeiros esforços de uma corrida ao poder, representando também, as armaduras que protegem os mais fortes de situações que poderiam significar a derrota nas urnas.
Medalhões: Já estes, geralmente são assediados e elencados pelos detentores dos atuais mandatos. Principalmente, pelos que buscam reeleição para os cargos majoritários, os mandalas. O perfil de um medalhão constitui-se por experiência em pleitos eleitorais, liderança comunitária, fenômeno das pesquisas, grande índice de popularidade, ou, é um daqueles que tem o que mais interessa, dinheiro para gastar na campanha. Enfim, como sugeriu Machado de Assis, ser um medalhão é ser uma figura considerada na cidade, respeitada, querida pela maioria das pessoas. Isto, para ser lembrando durante a vida e depois da morte também.
Digo, que na pior das hipóteses não será eleito, mas, terá sido lembrado durante a campanha devido seu perfil. Depois da campanha também será notado e, agraciado com um cargo de confiança oferecido pelo agora detentor do cargo majoritário que o mesmo ajudou a eleger.
Mandalas: Por conceito, o termo mandala significa círculo ou completude. Simboliza o universo, a busca pela paz interior representada por padrões que se entrelaçam com a finalidade de orientar o pensamento.
Por outro, considerando a organização política partidária, os mandalas são aqueles políticos que estão atualmente no poder e, podem, digamos assim, serem comparados a um acessório que não se deve carregar no pescoço, e sim, pendurar na parede. Isso acontece na realidade das repartições públicas, quando para mostrar quem é o detentor do poder majoritário, percebemos molduras que enquadram imagens de presidentes, governadores e prefeitos. Seriam eles os verdadeiros mandantes da política partidária brasileira?
Considerando contextos, talvez sim, talvez não. O que podemos dizer é que o mandala constitui o centro deste organograma político partidário, seja ele, pretendente ou possuidor do cargo majoritário (presidente, governador ou prefeito).
Conto “TEORIA DO MEDALHÃO”, escrito pelo autor em 1881.
O mandala é aquele que apresenta conselhos inescrupulosos aos demais componentes de sua legenda (digo daqueles que se corrompem) visando nas entrelinhas, alcançar um prestígio que na grande maioria das vezes não lhe convém, mas lhe trará uma ascensão prática suficiente para confirmar sua vitória nas urnas. Entretanto, incapaz de transformar efetivamente a trajetória cotidiana do povo que o elegeu, burlando com isso, a expectativa manifestada pelo poder democrático do voto.
A verdade, verdadeira – é que as alusões realizadas aqui não fogem da realidade de nosso país. O histórico de corrupção evidencia que há tempos a apropriada concepção de político vem sendo distorcida, e com isso, o contexto salutar das deliberações e participações coletivas está cada vez mais raro.
No Brasil, o crime de não respeitar a consciência coletiva do povo acontece a cada quatro anos, sendo reforçado no dia-a-dia dos mandatos emanados pelo povo e cometido de forma traiçoeira pela Sociedade dos Políticos Brasileiros – SPB (porque de fato são compartes, companheiro, cúmplices). Sociedade edificada sobre ironias e regada de aparências, onde o poder eleva o ego de seus associados ao ponto de se fazer aparecer acima do ser.
A justiça é lenta e fraca, mas não falha. No contexto político atual, podemos assistir pêndulos da sociedade dos políticos com as máscaras nos pés. Deles, agora, além das contas abarrotadas com dinheiro sujo, refiro-me pela forma em que se apossaram, o verdadeiro comportamento, o medíocre, que emerge nas explosões de escândalos fazendo políticos partidários prestigiados se veem no direito de falar somente em juízo.
A prepotência e os conselhos inescrupulosos antes ditados de cima para baixo, ganham direcionamentos jurídicos “nunca visto na história deste país”. Coagem alguns dos grandes líderes da SPB se comportarem feitos bichanos que por meio de intermináveis delações premiadas passam dias e dias miando como gatinhos dependentes do leite preparado por outros de outro balaio, ou do mesmo, para quem sabe, no futuro, com o aval das leis brasileiras ostentar o poder com o apoio da fé pública. Claro, não sabendo se retornará como pingente, medalhão, escapulário ou mandala.
O alastro da corrupção não é contemporâneo apenas ao contexto atual. Desta forma, o avançar dos escândalos remete a sociedade brasileira a uma reflexão coletiva que leve em consideração, sobretudo, as dores do povo que legitima o poder do Estado Democrático.
Contudo, sendo a corrupção uma pauta interminável com chances mínimas de esgotar as discussões, pausamos este momento com indagações que podem ser debatidas não só por especialistas na temática, mas, inclusive, por todos que possuem o poder de escolher nossos representantes nos poderes que emanam do povo: já aconteceu isso no cenário político brasileiro? Por que a corrupção é recorrente no cenário político do nosso país?
Por: Romilson de Azevedo / imagem: internet
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Valmir Flores Pinto
Mais uma vez percebe-se a ausência de mulheres eleitas nas eleições. Apesar de ser maioria da população e dos eleitores, as mulheres continuam à margem dos partidos e também da consciência do próprio público feminino.
-Não se trata apenas de “cota” para mulheres, mas de formação da consciência crítica, cidadã e participativa.
-O modelo democrático atual não contribui para isto.
-Também basta verificar os vereadores eleitos, um bom número está no poder a mais de um mandato. No entanto a atuação do Legislativo no Poder Municipal em Humaitá é pouco expressiva e com poucos projetos de lei que de fato vem favorecer a sociedade. Os vereadores não se envolver em lutas e causas sociais de expressão.